Revista da ESPM - OUT-NOV-DEZ_2018

ENTREVISTA | ALEXANDRE KALACHE REVISTA DA ESPM | OUTUBRO/NOVEMBRO/DEZEMBRODE 2018 40 porque ao se mudar para um local desses você se desenraíza e acaba perdendo o seu capital social, no momento da vida que mais preci- sa de seus amigos, sua família e sua vizinhança. Embora estejam fazendo certo sucesso no Brasil, eu não acho que esse tipo de mo- radia contribua para um envelhe- cimento ativo. Rev ista da ESPM — Diante da nossa realidade, o que o novo presi- dente do Brasil deveria fazer para minimizar os riscos e aproveitar as potencialidades desse envelhecimen- to populacional? Kalache — O primeiro passo é ou- vir nossos idosos e envolvê-los na formulação de políticas públicas, porque são essas pessoas que sa- bem como envelhecer! Para ter um envelhecimento ativo, você precisa acumular os quatro capitais es- senciais: capital da saúde, capital de conhecimentos, capital social e capital financeiro. Cada um de nós precisa fazer um esforço para conti- nuar aprendendo ao longo da vida, fazer amigos e manter bons laços com a vizinhança, cuidar da saúde e guardar dinheiro para o futuro. Já o governo tem a obrigação de formular políticas sustentáveis para permitir que a população consiga acumular esses quatro capitais. Por exemplo: nossa seguridade social está mal formulada e desigual, com poucos ganhando muito e muitos ganhando pouco; já o nosso sistema de saúde está falido e a maior prova disso é o retorno de doenças como o sarampo, a malária, a febre amarela e a den- gue. É preciso mudar esse cenário, porque do jeito que está, nós, brasi- leiros, não conseguimos ser compe- titivos, tampouco produtivos, o que nos põe na rabeira de praticamente todos os rankings internacionais. Revista da ESPM — Investir em políticas públicas para os idosos poderia significar menos dinheiro público destinado à população como um todo, especialmente às crianças? Kalache — Isso não é uma guerra de gerações, e sim reflexo da falta de dinheiro e de políticas públi- cas. Muitos não entendem que a perspectiva do envelhecimento é um gerúndio: nós estamos envelhe- cendo! Ninguém vira idoso da noite para o dia. Os países mais respon- sáveis já estão se preparando para esse futuro há alguns anos. Basta analisar o crescimento obtido pelo movimento Cidade Amiga dos Ido- sos, que lancei na OMS em 2007. Hoje, a iniciativa está implantada em 2,5 mil cidades de países como Hong Kong, Espanha, Inglaterra, Canadá, Estados Unidos e Uruguai. Revista da ESPM — De que forma a Cidade Amiga do Idoso está sendo propagada no exterior e como anda a implantação da sua ideia nas cidades brasileiras? gary yim / shutterstock . com HongKong viu sua riqueza aumentar dez vezes em50 anos, mas 33% de seus idosos vivemabaixo da linha da pobreza. Éuma injustiça, pois foi justamente essa geração que fez o país crescer e enriquecer nas últimas cinco décadas

RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx