Revista da ESPM - OUT-NOV-DEZ_2018
OUTUBRO/NOVEMBRO/DEZEMBRODE 2018| REVISTADAESPM 43 tantemente a mensagem de que envelhecer é ruim. O maior elogio que se faz a uma pessoa no Brasil é perguntar a sua idade e, ao ouvir a resposta, dizer: “Nossa, mas não parece!”. Eu não quero, nem posso parecer ter 30 anos a menos, nem estou interessado em juventude eterna. Primeiro, porque é inal- cançável. Depois, porque envelhe- cer é bom, morrer cedo é que não presta! Vivemos em uma socie- dade complicada, que une hedo- nismo, desigualdade e violência. Como o povo brasileiro não tem por hábito a introspecção para re- fletir sobre os problemas da socie- dade, seguimos empurrando com a barriga. É esse comportamento que faz com que nossa memória seja tão malcuidada, a ponto de deixarmos queimar a cultura de todo o nosso passado junto com as instalações do Museu Nacional ou ainda do Museu de Arte Moderna (MAM), ambos no Rio de Janeiro. A reação é sempre a mesma: dá aquele choque inicial e até uma certa revolta em saber que a maio- ria dos museus não tem aparelha- gem de prevenção de i ncênd io. Mas depois de a lguns meses, o assunto sai da pauta nacional e cai no esquecimento. Para piorar a situação, a elite brasileira não tem um comportamento voltado para o bem coletivo e dificilmente pratica filantropia. Se quisermos diminuir a pobreza e a desigualda- de, que continuam avassaladoras, temos de estimular o desenvolvi- mento desse espírito filantrópico e de responsabilidade social entre as camadas mais elevadas. Afinal, a regra é clara: quanto menos de- sigual é uma sociedade, mais feliz vive o seu povo! Revista da ESPM — Aos 73 anos, como o senhor encara hoje a questão do envelhecimento e qual é o propósi- to de vida? Ka l ac he — Eu quero que ma is e mais pessoas percebam a im- por tância do envel hecimento e o quanto é impor tante o jovem se preparar para a sua chegada, a lém de sensibi l iza r as autor i- dades públ icas e engaja r todos os setores da sociedade a pensar nessa questão. Em outros países eu já consegui. Aqui ainda estou tent ando. Na mi nha prof issão, aprendi a não esperar nada de vol- ta, apenas seguir dando o recado, por meio de entrevistas, artigos e palestras em todo o mundo. Há cinco anos, trouxemos Jane Fonda ao Brasil para participar do VII Fó- rum da Longevidade do Bradesco Seguros. Na ocasião, a atriz de 74 anos falou sobre o terceiro ato de sua vida, que é o envelhecimento: “Aprendi que apenas no terceiro ato é que os eventos ocorridos no pr imei ro e no segundo atos da vida começam a fazer sentido. E isso é viver!” Amaioriadosbrasileirosdisfarçaas rugas, aplicabotox, fazplásticae frequenta aacademianãoparaser saudável,maspara ficar sarado. Édificil envelhecer em umasociedadeque rechaçao idosoeenviaamensagemdequeenvelhecer é ruim R obert K neschke / shutterstock . com
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