Revista da ESPM - OUT-NOV-DEZ_2018
REVISTA DA ESPM | OUTUBRO/NOVEMBRO/DEZEMBRODE 2018 44 Quandoo tsunami grisalho se defronta coma inérciaempresarial As lições de Estados Unidos, Europa e Japão para aproveitarmos a onda do “old is beautiful” e o emergente mercado grisalho no Brasil Por EdgarWerblowsky PANORAMA E stá o mercado preparado para o tsunami grisa- lho?Compoucasexceções,asempresas,asasso- ciaçõesemesmoosgovernosestãopouquíssimo preparadosparaenfrentaressagrandeondaque invade o planeta. Aliás, estão assistindo de camarote ao rápido envelhecimento da população, quase inertes, sem saber como reagir, nemque atitude tomar. Há exceções. Algumas empresas, como a Shidax, do Japão, já enxergarama oportunidade. Ela, que é amaior rede de karaokês do país, converteu muitos dos seus espaços emsalas de aula, onde os alunos, especialmente mulheres entre 50 e 70 anos, podem escolher mais de 60 cursos, que vão da dança e idiomas aos tradicionais workshops de ikebana. AHarley-Davidson,cujoconsumidormédiotem50anos, começouaolharparaoutrospúblicos, comoasmulherese os adultos idosos, diminuindoaalturadosbancosde suas motocicletas, para facilitar o sentar. A marca também lançou a versão “trike”, uma motocicleta com três rodas, que está se tornandopopular entre os veteranos seniores. É surpreendente que os adultos idosos no Primeiro Mundo estejam já consumindo a impressionantemarca deUS$40mil dólares aoano, anteosUS$30mil dos adul- tos entre 30 e 45 anos. A diferença pode ser creditada às dívidas contraídas pelo segmentode jovens adultos, alia- das à grande recessão de 2008. Umaexplicaçãoparcial sãoaspesquisas realizadasnos Estados Unidos que mostram que os baby boomers não consideramimportante deixar uma herança. Emmuitos casosnãoénemumaquestãode escolha, poismuitos dos velhos irão sobreviver à sua poupança. Parece incrível, mas dados da revista The Economist apontamque somente 30%das empresas estão incluindo o mercado grisalho em seus planos estratégicos. Pior, segundo o Boston Consulting Group (BCG), apenas 15% das companhias criaram algum tipo de estratégia de negócios focada em adultos idosos. E vejam que o BCG estima que em2030 a população acima dos 55 anos será responsável por 50% do crescimento do consumo desde 2008 nos Estados Unidos, 67% do crescimento no Japão e fabulosos 86% na Alemanha. Já um estudo do Euromonitor prevê para 2020 um consumo 60+ de US$ 15 trilhões ou sete vezes o PIB do Brasil. Não será exagero afirmar que num futuro breve asmais avançadas economias do planeta estarão reféns das necessidades, desejos e caprichos de vovôs e vovós. Joseph Coughlin, umdosmaiores estudiosos domer- cado grisalho, diretor do AgeLab do Massachusetts Institute of Technology (MIT), em seu livro The longe- vity economy: unlocking the world’s fastest growing, most misunderstood market , mostra sua inconformidade com essamiopia empresarial. Coughlin lembra que em2015 o consumo dos americanos acima dos 50 anos superou US$ 5,5 trilhões, enquanto que aqueles com menos de 50 anos gastaram menos de US$ 5 trilhões. Ou seja, o mundo já é grey . Apróxima onda será a do old is beautiful . SegundoCoughlin, em2015 as empresas gastaramcinco vezes mais com millennials do que com todos os outros grupos etários reunidos. Não deixa de ser então natural que os adultos idosos achem que as empresas não lhes dedicam atenção. Uma crise? Certamente! ...uma crise a ser aproveitada.
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