Revista da ESPM - OUT-NOV-DEZ_2018

CENÁRIO MUNDIAL REVISTA DA ESPM | OUTUBRO/NOVEMBRO/DEZEMBRODE 2018 86 a metade deste século, passando de 1,7% a 6,8% da população total. Em 2075, mais de um de cada dez habitantes da região terá 80 anos ou mais, superando até mesmo a população menor de 15 anos. Os grandes desafios do envelhecimento A evolução do processo de envelhecimento na Amé- rica Latina e no Caribe tem sido muito mais rápida do que no mundo desenvolvido e se processa em um contexto regional caracterizado por uma persistente desigualdade. Isto significa que os governos da região contam com menos tempo (e, portanto, menos mar- gem de erro) para realizar os ajustes necessários a fim de enfrentar as demandas de uma população que envelhece e promover uma sociedade equitativa e inclusiva para todas as idades. Se, por um lado, a redução da população infantil diminui em certa medida as demandas de educação, por outro, cuidados e serviços de saúde materno-in- fantil e o crescimento da população idosa, em parti- cular a de 80 anos ou mais, geram desafios econômi- cos e sociais de grande envergadura na maioria dos países. Isso porque aumentarão, cada vez mais, as demandas de pensões, os custos de atenção à saúde e as necessidades de cuidado de longa duração. As projeções populacionais demédio e longo alcance alertam inequivocamente para a necessidade de implementar desde já uma série de ações e medidas a fim de evitar que as condições de vida dos idosos se deteriorem no futuro e gerem situações de desigual- dade catalisadas pela nova realidade demográfica. É fundamental, por exemplo, incrementar os inves- timentos em educação — particularmente no que diz respeito a sua qualidade —, em capacitação para o emprego e na geração de empregos formais e de qua- lidade, a fim de reduzir as altas taxas de informali- dade que caracterizam o mercado de trabalho regio- nal e aumentar a produtividade das futuras gerações de trabalhadores. Os altos níveis de informalidade vigentes na atualidade comprometem o financia- mento dos sistemas públicos e aumentam a pressão sobre as contas fiscais, que de toda maneira vêm sendo afetadas pelo aumento da população idosa, que frequentemente carece de recursos adequados e que requer crescentes aportes não contributivos para atender suas necessidades. Outro pilar importante para enfrentar a pressão fiscal que o envelhecimento populacional acarre- tará nos gastos com a saúde passa pelo desenvolvi- mento de políticas preventivas, com uma abordagem de ciclo de vida capaz de incidir simultaneamente no crescimento da esperança de vida, no aumento da longevidade e na boa saúde. Isto implica adotar uma mudança de paradigma, de sistemas baseados na atenção para sistemas focados na prevenção. Por- tanto, a preparação para uma vida adulta mais sau- dável deve ter início a partir do nascimento de cada indivíduo e continuar, com as características espe- cíficas de cada momento, ao longo do ciclo de vida. Por outro lado, a chegada maciça de grandes contin- gentes de pessoas idosas exigirá ajustes que supõem uma redefinição do papel do Estado, do setor privado e da família em relação ao cuidado dos idosos. Em especial, evidenciarão a necessidade de implemen- tar sistemas nacionais de cuidados, com os desafios respectivos que implicam seu financiamento, como aponta o Panorama Social da América Latina de 2010, produzido pela Cepal. A necessidade de estabelecer esses sistemas de cui- dados se justifica, em primeiro lugar, pela inaceitá- vel desigualdade de gênero que se observa na região com respeito à distribuição das tarefas de cuidado de crianças, pessoas com deficiência e idosos, assumi- das de maneira absolutamente desproporcional pelas mulheres. A esse argumento, que por si só já seria suficiente, deve-se acrescentar o fato de que, diante do envelhecimento massivo esperado para o futuro próximo, a ausência de sistemas de cuidados poderia implicar situações de desigualdade na dignidade e na esperança de vida das pessoas mais idosas, depen- dendo se contam ou não com parentes com recursos econômicos e dispostos a transferi-los privadamente. Embora frequentemente percebido como negativo, o envelhecimento populacional é o resultado damelhoria Ocrescimentodapopulação idosa, em particular ade 80 anos oumais, gera desafios econômicos e sociais de grande envergaduranamaioriados países

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