Revista de Jornalismo ESPM

8 JANEIRO | JUNHO 2020 A nova era da cidadania empática E daí que estamos cercados por todos os lados de misinformação. Não foi sempre assim? DIRETO DE COLUMBIA por michael schudson nhas, proveitopróprioepreconceito –sãopoderosos inimigosdacomuni- cação baseada em evidências. E um outro inimigo da sensatez no trato damisinformação é omito comumde que alguma vez, no pas- sado, fizemos política do jeito certo e que só recentemente nos desvia- mos do bom caminho. Mas essa é a linguagem dos aspirantes a refor- mador que proclamamque “se vol- tarmos a ‘isso’” ou “se restituirmos ‘aquilo’” ou se “preservarmos o que é bom”, então tudo estaria bem.Mas exatamente quando e onde estava esse mundo tão bom? No caso dos Estados Unidos, cer- tamente não na Virgínia colonial, o berço político de GeorgeWashing- ton, Thomas Jefferson e James Madison – onde o voto era aberto, o eleitor (antes de tudo, os cidadãos de posses) comparecia diante do xerife ou de outra autoridade res- ponsável pelo pleito, proclamava ter perspectiva histórica ajuda em algo? Partamos reconhecendo que há diversas categorias de misinformação ( já descontados erros legí- timos e ocasionais inexatidões). Há, obviamente, propaganda: a informa- ção convertida em arma, em geral sob os auspícios do Estado, para pro- mover objetivos políticos de ditadores, demagogos, regimes autoritários. Há tambémpegadinhas: mentiras de 1 o de abril, brincadeiras, trotes entre estudantes. Em geral (mas nem sempre), são todas inofensivas – embora, assim como outras modalidades de misinformação, frequentemente con- vençam as pessoas de que uma informação falsa é, no fundo, verdadeira. Há a misinformação em nome do lucro, incluindo exagerar os supostos benefícios de um produto e afirmações bombásticas para atrair atenção (mesmo que não cheguem a ser mentira). No fim do século 19 e começo do século 20, os jornais americanos estavamrepletos de anúncios de remé- dios que prometiam (com base em nenhuma evidência) o alívio de tudo quanto era mal. Isso sem contar as manchetes de jornais enganosas que atraíam o leitor – mais em tabloides sensacionalistas do que em veículos de imprensa confiáveis – e que eram invariavelmente desmentidas pelos detalhes menos sensacionais das notícias que anunciavam. Ehá, por último, amisinformação produzida pelo público, algo que todos fazemos: cada um de nós ouve sobretudo o que quer ouvir e ignora o resto. Como afirmou um cientista político britânico ao resumir um século da lite- ratura relevante em psicologia e psicologia social, o ser humano é capaz de “ignorar, suprimir, interpretarmal, esquecer, lembrarmal, nãoentender, evi- tar ounegar informações eopiniões quenãocondigamcomsuaprópria visão demundo”. Os quatro “Ps” da compreensão errônea – propaganda, pegadi-

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