Revista de Jornalismo ESPM

REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 9 em voz alta seu voto e, depois, se dirigia ao candidato no qual aca- bara de votar, para apertar sua mão e ouvir umagradecimento. O rito do voto reafirmava a hierarquia social. Então, o que se esperava do eleitor era deferência a cidadãos de experi- ência, tino, fortuna e berço. Seria outra geração a que inseriria partidos políticos na esfera pública –partidos que arregimentavamelei- tores e instavam sua participação no processo. Nas décadas de 1820 e 1830, o direito a voto se estendeu a homens brancos compoucas pos- ses – ou nenhuma –, que passaram então a ser cortejados, seduzidos e entretidos por novos partidos. O cidadão ideal já não era deferente, mas fiel ao partido. Quando come- çou a votar, na década de 1830, em Illinois, Abraham Lincoln tinha de se dirigir ao local da votação, pro- curar um ticket peddler de seu par- tido (o Whig), receber uma cédula (o “ticket”) desse peddler já com o nome de todos os candidatos dopar- tido às vagas sendo disputadas no pleito e depositar o ticket na urna. O voto não era secreto. Tudo o que se exigia de Lincoln ou de qualquer outro eleitor – homem, branco – era achar um ticket peddler do partido, pedir a cédula e depositá-la na urna. Nãohavia nada a preencher. Não era preciso saber ler. Votar eraumatode filiação a umpartido, emgeral após uma campanha de paradas e reuni- ões sociais. Ao voto provavelmente se seguiria uma reunião na taberna favorita do partido. E a filiação par- tidária tinha pouco ou nada a ver com um programa político ligado ao Estado. Quando esse fervor par- tidário começou a ser considerado sentimental demais e pouco infor- mado, panfletos começarama subs- tituir paradas no orçamento de par- tidos. E uma mudança no voto var- reu o país quando os ticket peddlers foram substituídos por uma cédula oficial na qual constavam todos os partidos e candidatos na disputa. Agora, o eleitor era obrigado a indi- car sua opção na cédula, a fazer uma escolha consciente entre partidos e candidatos no dia da eleição. Ocida- dãomodelo não era mais um corre- ligionário, mas um indivíduo inde- pendente e bem informado. ILUSTRAÇÃO: SAULO CRUZ

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