Revista de Jornalismo ESPM

18 JANEIRO | JUNHO 2020 Tow Center for Digital Journalism, Mike Ananny, professor da Univer- sity of SouthernCalifornia, apontou algoque logo cedopreocupou: “Uma capacidade coletiva opaca, protegida internamente e praticamente inex- pugnável de criar e distribuir infor- mações e de indicar ao público em que se pode acreditar – um poder dessesnãopode residir emumgrupo de organizações autosselecionadas, autorreguladas e imunes aumescru- tínio público robusto”. Além disso, uma ênfase no pluralismo abriu as portasaparceiroscomoaCheckYour Fact, que é bancada pelo Daily Cal- ler, um site de direita não lá muito afeito à verdade. Outro admitido foi a Weekly Standard; em setem- bro de 2018, quando aWeekly Stan- dard “desmentiu” uma matéria do site ThinkProgress sobre a questão do aborto [Roe versus Wade], Judd Legum, fundador e ex-editor-chefe do ThinkProgress, tachou a inicia- tiva de fact-checking do Facebook de “farsa”. E, em setembro do ano passado, o Facebook anunciou que não verificaria conteúdo postado por políticos, mesmo que violasse as normas da plataforma. Segundo Baybars Örsek, diretor da IFCN, a remuneração de orga- nizações de checagem de fatos pelo Facebookémais regulardoquequal- quer outra. Quanto à iniciativa, teve sucesso ou não? “Certamente não é cedo demais para dizer que esse tra- balho está tendo impacto. Mas gos- taríamos de poder provar que a ini- ciativa está realmente funcionando. Aindanãotemososdadoseumretrato detalhado para provar cabalmente o impacto do projeto do Facebook.” Até que isso ocorra, pode demo- rar. “Parauma empresa comooFace- book, o fact-checking temapelo por- que aborda um problema imediato na plataforma”, diz Ananny. “Mas também porque é compatível com uma visão de mundo comum em empresas de tecnologia. A saber: na presença de duas versões distin- tas, investigam-se ambas e vence a que você julgar correta.” Isso mini- miza aspectos do jornalismoque vão alémdo “certo” e do “errado” – coi- sas como empatia e contexto. Adiversidade de verificadores de fatos é quase tão grande quanto a diversidade da desinformação. Para Lucas Graves, professor da Univer- sity of Wisconsin e autor de Deci- dingWhat’s True (2016), isso é razão para ceticismo. “Há nomínimo um potencial vão entre organizações de fact-checking e aquilo que dizemser sua missão, como combater a retó- rica política, e a realidade de que estão lutando contra toda sorte de desinformação”, afirma o acadê- mico, ressaltando que esse temor cresce quando analisamos quem banca essas entidades. “É inegá- vel que o interesse de governos e de plataformas de tecnologia nisso vem levando o setor a se concentrar na desinformação, o que gera mui- Vilões Irmãos Koch Charles Koch (à esquerda) e o irmão David (à direita, já morto) gastaram milhões para semear desinformação na mídia. O grande legado da dupla é a defesa de uma falsa ciência climática. Do financiamento do negacionismo pelo site de direita Daily Caller à publicação de um tratado econômico que minimiza a crise do clima, a máquina montada pelos Koch espalha seus tentáculos por toda parte. ILUSTRAÇÃO: STEVE BRODNER

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