Revista de Jornalismo ESPM
REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 19 tas dúvidas, tanto quanto à missão como quanto a métodos”, comple- menta Graves. Aautomaçãodo fact-checking pos- sibilitadapeloprocessamentode lin- guagem natural, por exemplo, vai demonstrar até onde um algoritmo é capaz de atestar a veracidade de informações – tarefa que alguns jor- nalistas têm hesitado em delegar. A Full Fact, do Reino Unido, entrou nessa arena. “Vimos três ondas dis- tintas de fact-checking ”, explicaTom Phillips, editor da Full Fact. “A pri- meira envolveuverificar declarações e tornar transparente o processo de checagemde fatos. Na fase seguinte, o fact-checking buscou ‘accountabi- lity’, alémde correções e retratações. Agora,aterceiraondaéfazerissotudo na ‘escala da internet’, o que basica- mente significa ser umpotencializa- dor da capacidade humana.” Bill Adair, fundador da PolitiFact e professor de jornalismo e políticas públicasdaDukeUniversity, defende igualmente a necessidade de usar a automação para “fechar o vão de tempo e espaço”. Com isso, sustenta ele, a checagem vai ter mais poder de atingir umdeterminado público. Adair tambémestá buscandomanei- ras de apresentar resultados visual- mente. “Este é um território inex- plorado em termos daquilo que o usuário responde. Será que deve- mos usar fatos ou símbolos? Preci- samos trabalhar muito mais nisso.” Isso posto, a checagem automati- zada depende da disponibilidade de fontes verificáveis, algo que é com- plicado e humano; checadores em meios com verba abundante traba- lham horas a fio analisando e inter- pretando informações. E há a ques- tão da velocidade: em um processo idealparaomundotecnológico,dados estariamdisponíveis emtodaparte e verificadoresteriamferramentaspara questionar, classificar e retransmitir emresposta ao ciclodenotícias.Mas a realidade é bemmais caótica. Tem gente tentando arrumar a casa. Depois de Silverman ter rela- tado a influência das fake news em 2016, a repórter Jane Lytvynenko se uniu ao time. “Passei as primeiras semanas no trabalhomontando um imenso banco de dados de sites par- tidários, o que significou não só visi- tar cada um desses sites, mas todas as suas páginas no Facebook e con- tas emmídias sociais”, recorda ela. “Mergulhei fundo na toca do coe- lho e, no final dessa trilha, emgeral há coisas bastante desagradáveis.” Jane diz que muita coisa em seu trabalho costuma ser chata emorosa – mas ela é boa no que faz. Junto com Silverman, está começando a monitorar possíveis campanhas de desinformação já voltadas à elei- ção de 2020. Às vezes, pede ajuda no Twitter para achar desinforma- ção sobre fatos importantes e fica satisfeita ao constatar que a cons- cientização sobre o fact-checking parece estar gerando frutos junto ao público. “Agora, quando recebo fotos depois de uma tempestade ou de um furacão, tem gente que diz que fez ‘uma busca reversa de ima- gem’, o que sem dúvida é um com- portamento novo. Ou seja, o pro- cesso de desmentir também pode servir de alfabetização midiática”, salienta a jornalista. O próximo desafio para Jane – e para todos – é a migração das fake news de plataformas públi- cas como Facebook e Twitter para grupos fechados em aplicativos de celular como FacebookMessenger, WhatsApp e Signal. A nova fron- teira envolve fontes de desinforma- ção dirigidas, efêmeras e fechadas – e pouca gente entende como isso funciona ou onde procurar. Contra- tar mais gente seria difícil; na pró- pria redação na qual Jane trabalha já houve demissões. “Temos ótimas redes de treinamento fazendo um bom trabalho. Mas, se vocême per- guntar se toda organização jornalís- tica temuma ou duas pessoas capa- zes de assumir esse papel (...), sin- ceramente, acho que não!” ■ emily bell é diretora do Tow Center for Digital Journalism da Columbia Journalism School “É uma ideia absurda imaginar que notícias falsas no Facebook, que são uma parcela pequena do conteúdo, tenham influenciado de alguma maneira as eleições.” – Mark Zuckerberg, 10/11/2016 Texto publicado na edição impressa da Columbia Journalism Review (fall 2019), disponível emwww.cjr.org
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