Revista de Jornalismo ESPM

20 JANEIRO | JUNHO 2020 por whitney phillips “Precisamos entender por que isso está acontecendo.” “Contra a mentira, a melhor defesa é a verdade.” “A luz desinfeta.” declarações como estas volta e meia aparecem na esteira de fac- toides, boatos, teorias da conspiração e ataques racistas que pululam nas redes sociais. Buscamos fatos como antídoto à “misinformation” (informa- ções falsas e enganosas espalhadas semquerer); à “disinformation” (infor- mações falsas e enganosas espalhadas intencionalmente); ou à “malin- formation” (informações verdadeiras espalhadas para difamar e causar dano). Mas o mal que assola a mídia digital é maior do que qualquer um desses, isoladamente; é que essas categorias se confundem, misturando quem compartilha a informação falsa de propósito com quem comparti- lha achando que é verdade. Com tanta coisa circulando com tanta rapi- dez, bons emaus atores – e informações boas e ruins – acabam fatalmente confundidos. Essa bagunça é o que Claire Wardle, cofundadora da ONG First Draft, chama de “poluição informacional”. Quando não é possível distinguir o que é verdade do que é lixo, diz Wardle, a democracia não tem como funcionar. Jornalistas sabem disso melhor do que ninguém. Daí lutarem para ajudar seu público a entender os fatos por trás de uma notícia, com a maior frequência e estridência possíveis. Apesar da boa intenção por trás desse esforço, o impulso a rebater o que é falso com fatos não resolve as coisas. A premissa de que as pessoas As toxinas que transmitimos A desinformação está poluindo nosso ambiente midiático. E os fatos não irão nos salvar não vão compartilhar uma notícia se souberemque é falsa e a de que a verdade é umcorretivo natural para amentira podem, emteoria, parecer irrefutáveis. Mas, na prática, nossa relação com a verdade é mais com- plicada. As pessoas não acreditam em algo, ou compartilham algo, só por causa dos fatos. Logo, fatos por si só não têm o poder de resolver o problema. E, em um contrassenso, chamar a atenção para o que é falso pode até piorar as coisas, ao disse- minar falsidades para mais gente – fazendocomqueasmesmaspareçam mais plausíveis para certos públicos e, de modo geral, tornando a notí- ciamais forte depois de desmentida do que antes. Aqueles, dentre nós, que apontam a relativa impotência dos fatos não estãoadotandoumapostura corajosa contra a verdade. Essa posição tam- pouco sugere que amelhor resposta aodiscursoviolentoedesumanizante é ignorar, não dizer nada e esperar que a intolerância desapareça por conta própria. A tese é, antes, que todo jornalista – aliás, todo cidadão – deve rever suas ideias mais bási- cas sobre como a informação falsa e enganosa se espalha e sobre o papel que todos desempenhamos em sua disseminação. O que temos feito desde 2016 não melhorou em nada as coisas agora, em2020. Devemos, portanto, ajustar a maneira como pensamos o problema. Minha proposta é que adotemos um raciocínio ecológico, ideia que exploro com o teórico da comuni- cação RyanMilner emum livro que lançaremos juntos ( You Are Here: A Field Guide for Navigating Polluted

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