Revista de Jornalismo ESPM

32 JANEIRO | JUNHO 2020 por ethan zuckerman emum intervalode poucos anos, uma revolução tecnológica mexeu com o mundo. Empresas nasceram e morreram, fortunas foram erguidas e perdidas, o ato de narrar notícias foi reinventado e a relação entre líde- res e o público foi completamente transformada – para melhor e para pior. Isso ocorreu entre 1912 e 1927. E a revolução tecnológica foi o rádio. O rádio começou como rajadas de estática usadas para transmitir pon- tos e traços de informação por longas distâncias. Em experimentos no ano de 1900 o som já era transmitido pelas ondas do ar, embora o rádio como hoje o conhecemos – por meio do qual qualquer pessoa com um receptor de AM pode sintonizar uma transmissão de música e vozes – não era praticável até 1912, quando indivíduos mundo afora descobriram, cada um no seu canto, como usar a válvula triodo como amplificador. Nos anos seguintes, três países – Estados Unidos, Reino Unido e União Soviética – desenvolveram três modelos distintos de uso da tecnologia. Nos Estados Unidos, o rádio começou como ummercado livre, aberto a todos. Emmenos de uma década surgirammais de 500estações para explo- rar as possibilidades do novo meio. Algumas pertenciam a fabricantes de aparelhos que faziam transmissões para poder vender receptores; outras eramde propriedade de jornais, hotéis ou de qualquer outra empresa que visse no rádio ummeio de promover seu produto. Delas, 40% não tinham caráter comercial: eramde igrejas, dopoder público local, de universidades e de rádio-clubes. Essas estações exploravampossibilidades técnicas, cívi- cas e proselitistas do rádio. Isso até 1926, quando foi criada aNational Bro- Por uma internet mais honesta! Utopia... Como seria uma rede social voltada ao interesse público? adcasting Corporation pela Radio CorporationofAmerica, seguida, em 1927, pelo Columbia Broadcasting System. Essas entidades, cada qual composta de uma rede de estações interligadas que transmitiam con- teúdo local e nacional e eram ban- cadas por publicidade local e nacio- nal, passarama dominar omercado – enquanto emissoras não comer- ciais minguavam. Enquanto isso, na União Sovié- tica, a ideologia impedia o desen- volvimento da radiodifusão comer- cial e garantia a rápida expansão de operações controladas pelo Estado. Líderes das novas repúblicas socia- listas reconheciamopoder da radio- difusão comomeiode alinhar open- samento político de um imenso ter- ritório povoado em sua vastamaio- ria por umcampesinato analfabeto. O rádio acompanhou a industriali- zação: na década de 1920, trabalha- dores que migravam para fábricas e fazendas coletivas ouviam trans- missões de alto-falantes instalados em fábricas e no alto de postes em praças públicas. E, com a aparição do rádio privado, o “rádio com fio” – um receptor com cabo que trans- mitia uma única estação – conectou praticamente todo o país. OReinoUnido seguiuoutrocami- nho, evitandoos extremosdocomer- cialismo irrestritoedocontrole esta- tal centralizado. Nessemodelo, uma única entidade pública, a British Broadcasting Company (BBC), tinha autorização para transmitir conteúdo aopaís. Alémdomonopó- lio, a BBC tinha uma receita garan- tida: todo aparelho de rádio ven- dido no Reino Unido exigia a com- pra de uma assinatura anual desti- nada, em parte, a custear a BBC. O primeiro diretor da emissora, John

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