Revista de Jornalismo ESPM
40 JANEIRO | JUNHO 2020 dia 13 de abril, vítima de complica- ções da Covid-19. Silva, de 57 anos, que era hipertenso, ainda trabalhou por alguns dias após apresentar os primeiros sintomas dadoença, antes de ser afastado. Pelomenosmais três colegasforaminternados.Outrospro- fissionais, como Mari Palma, apre- sentadora da CNN Brasil, também contraíram a Covid-19, embora sem maior gravidade. No grupo Globo, conforme noticiado pelo UOL, até 23 de abril, 93 profissionais haviam sido diagnosticados coma Covid-19. A exposição aos riscos, as conse- quências para a saúde dos jornalis- tas e as mudanças na forma de tra- balhar e produzir notícias se soma- ram a outro fenômeno que, infeliz- mente, ganhou força após o agrava- mento da propagação do vírus. Em meioaumcontextodeextremapola- rização, jornalistas têmsido frequen- tementeatacados emplenoexercício da profissão por pessoas desconten- tes com o que consideram uma par- cialidade da imprensa. Os alvos preferidos são os profis- sionais da Rede Globo. Em um dos casos mais conhecidos, o repórter RenatoPetersteveomicrofonearran- cadodamãoporumamulherquando faziaumaentradaaovivodohospital da Vila Nova Cachoeirinha, em São Paulo, em abril. A mulher gritou no microfone: “A Globo é um lixo. Bol- sonaro temrazão”. Outros episódios semelhantes serepetiramnoperíodo. Osataquesaos jornalistasdaGlobo edeoutros veículos jornalísticos não são uma novidade e já aconteciam anteriormente, vindosdesimpatizan- tes de diferentes correntes políticas. No momento atual predominam as manifestações de apoiadores dopre- sidente JairBolsonaro, este emclaro embatecomosveículosdecomunica- ção – Rede Globo e Folha de S.Paulo em especial –, que se agravou com a discussão em torno do uso da cloro- quina para o tratamento dos pacien- tes com a Covid-19. Essesataquesaprofissionaisdejor- nalismo refletem uma estratégia do governo, que teve inícioem2019, para desqualificaro trabalhoda imprensa. UmlevantamentodaONGRepórte- res semFronteirasdivulgadoemabril mostraque, nos trêsprimeirosmeses de2020, Bolsonaro fez32ataques ou comentários depreciativos comrela- ção à imprensa, o que dá em média um embate a cada três dias. Emumdosepisódiosofendeupes- soalmente a jornalistaPatriciaCam- pos Mello, autora de reportagem publicada na Folha de S.Paulo em 2018, que demonstrava odisparo em massa de mensagens de WhatsApp para beneficiar políticos. “Ela queria umfuro. Ela queria dar o furo”, disse opresidenteduranteuma entrevista, fazendo uma alusão ao depoimento de Hans River do Rio Nascimento à CPMI da Fake News. As insinuações de Nascimento, reproduzidas por Bolsonaro, muito ativoe comgrande alcancenas redes sociais (tinha 6,4 milhões de segui- dores no Twitter em abril), encon- traramnessemeio terreno fértil para a disseminação de uma informação falsa. Políticos, apoiadores e toda a rededigital que sustentaopresidente levaram a desinformação adiante. A propagação indiscriminada de informações falsas ganhouumanova dimensãocomaCovid-19.Dadosdes- contextualizados ou errados sobre o coronavírus começaram a circular nas redes, com o agravante de que podem levar pessoas àmorte. Nesse tema, Bolsonaro manteve a prática de fazer afirmações baseadas em suas próprias convicções, ignorando estudos científicos ou simplesmente negando fatos e publicando emsuas redes informações inverídicas, pelo fato de elas atenderem a sua visão do problema. No início de abril, alguns dias depois de chamar aCovid-19de “gri- pezinha”, Bolsonaro chegou a com- partilharumvídeodeumfuncionário do Ceasa de Minas Gerais, em Belo Horizonte, quemostravaumsuposto desabastecimentodo local, comima- gens indicando pouco movimento. Na sequência, veículos de comuni- cação, como o Estado de Minas e a ILUSTRAÇÃO: SAULO CRUZ
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