Revista de Jornalismo ESPM
REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 43 tantes ataques vindosdospoderosos, pode estar iniciando umimportante momento de recuperação. Pesquisa do Instituto Datafolha divulgada no fim de março mostra que osmeios de comunicação tradi- cionais, com TVs e jornais à frente, são tidos comomais confiáveis pela população na divulgação de infor- mações sobre o novo coronavírus. De acordo com o levantamento, o índice de confiança a respeito do que é veiculado sobre o tema chega a 61% nos programas jornalísticos na TV, 56% nos jornais impressos, 50%nos programas jornalísticos de rádio e 38%nos sites de notícias. Por outro lado, apenas 12%dos entrevis- tados dizemconfiar no que leemno Facebook e no WhatsApp. Os resultados apontam para um resgate da credibilidade do jorna- lismo profissional a partir dos valo- res fundamentais daprofissão, como odever de informar a sociedade com imparcialidadeeobjetividade, garan- tindo ao máximo a veracidade das informações.Nacoberturadapande- mia do coronavírus, cabe destacar o queas autoridades eespecialistas em saúde indicam como o melhor para combater a contaminação, combase emdados concretos, alémde cobrar atitudes emedidasdosgovernospara o enfrentamento da crise. Apesar de significativo e motivo de otimismo, omomentovividopelo jornalismo brasileiro ainda provoca incerteza e deixa indagações sobre o futuro. Desde o surgimentoda inter- net comercial, emmeados dos anos 1990, a mídia tradicional viu seu modelode negócios ruir. Como con- sequência, várias publicações deixa- ram de existir, houve cortes segui- dos de profissionais nas redações, os salários foram achatados e a sobre- carga de trabalho para os sobrevi- ventes aumentou. Nada indica que essa realidade irá mudar nos próximos meses. As condições econômicas desfavorá- veis, que afetam as empresas em geral, permitem antever um cená- riode redução aindamaior de inves- timentos empublicidade, que repre- sentaumaimportantefontedereceita para amídia tradicional. Oaumento nos índices dedesempregoe aqueda brutal na renda tambémlevama um menor poder de consumo das famí- lias, inclusive de conteúdo pago nos meios de comunicação. Adescoberta, apartirdaexperiên- cia na pandemia do coronavírus, de que as redações conseguem funcio- nar comamaioria de seus profissio- nais em home office, pode tornar a prática uma realidade permanente. Restasaberatéqueponto issotornará ainda mais precárias as relações de trabalho entre empregadores e jor- nalistas. Por reduçãodegastos, novas demissões e um achatamento ainda maior de salários podem acontecer. NogrupoODia, doRiodeJaneiro, osefeitosnegativos foramsentidosde imediato, nodia 1º de abril, quando a direçãodaempresaanuncioua redu- ção temporária de 25% nos salários dos profissionais dos jornais ODia e MeiaHora . No fimdomesmomês, a Federação Nacional dos Jornalistas divulgouomanifestoJornalistas Sal- vamVidas, emque chama a atenção para cortes de até 70% em jornadas de trabalhoe saláriosdeprofissionais anunciados pelasmaiores empresas jornalísticas do país. Se não é possível fazer previsões concretasnessecenáriode incerteza, já podemos dizer que a pandemia de coronavírus eo surtodedesinforma- ção trouxeram a oportunidade de o jornalismo recuperar parte de sua força perante a sociedade brasileira e a possibilidade de encontrar novas formas de trabalho e de produção de conteúdo em diferentes forma- tos. O fato é que os jornalistas conti- nuarão a enfrentar as adversidades e limitações do home office, os ris- cos de contaminaçãona apuraçãode reportagens sobre aCovid-19, os ata- ques dos poderosos e seus simpati- zantes, as redações enxutas e os bai- xos salários. Às empresasdecomuni- cação, aos sindicatos e às federações de trabalhadoreseempregadoreseàs outras associações de classe, caberá dar o suporte necessário para que a atividade seja exercida com digni- dade e segurança. ■ antonio rocha filho é professor do curso de Jornalismo da ESPM-SP e supervisor do Centro Experimental de Jornalismo da faculdade. Graduado em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero, é mestre em Produção Jornalística e Mercado pela ESPM-SP. Trabalhou por 24 anos no grupo Folha e teve passagens pelos grupos Globo e Abril. O crescimento na audiência dos principais veículos jornalísticos indica que a população busca informações sérias sobre a Covid-19, e os meios profissionais atendem a essa demanda
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