Revista de Jornalismo ESPM

46 JANEIRO | JUNHO 2020 Ainda neste contexto, vale ressal- tar que a ampliação do escopo do programa deMIL parece convergir comos quatro aspectos essenciais da noção de competência como trans- formaçãosocial defendidaporBauer: habilidade – conhecer as operações dasmídias e comousá-las; desenvol- ver habilidades técnicas; capacidade – ter os recursos cognitivos, afetivos e ativos para uma interação compre- ensiva com as mídias; responsabili- dade – estar consciente do que sig- nificamos conteúdos para simesmo e/ouparaos outros, suas consequên- cias e possíveis efeitos; e compro- metimentomoral – estar ciente dos valores implicados ao tomar deci- sões pessoais. Osquatroaspectospresentesnesta concepção ampliada de competên- cia são fundamentais para se enten- der tambémodestaquequeasmídias noticiosas ganham no programa da Unesco: “Elas [as mídias noticiosas] representamum sistema multiface- tadode fluxosde informações. Como uma instituição, asmídiasdenotícias têmfunções específicas acumprirde acordocomasexpectativasdas socie- dades democráticas”, como indica o L’education aux médias . Educação midiática É com vistas ao papel fundamen- tal que as mídias noticiosas desem- penham nas sociedades democráti- cas, ao fato de que elas são a base de uma governança pública calcada em interaçãocolaborativa, accountability e direito social à informação, que se assiste, nos últimos anos, auma série de iniciativas eprojetosdeMILtanto noâmbitodoEstadobrasileiroquanto das instituições de ensino, em todos os seus níveis e naturezas adminis- trativas, de corporações da indústria de tecnologia e demídia e de organi- zações da sociedade civil. Destaque-se, nestesentido, a inclu- são, na Base Nacional Curricular Comum (BNCC), aprovada pelo Ministério da Educação em 2017, comocomponenteobrigatóriade lín- gua portuguesa, de conteúdos rela- cionados ao tratamento de gêneros dos campos jornalístico-midiático. O documento aponta que, “para além dos gêneros, são consideradas práticas contemporâneas de curtir, comentar, redistribuir, publicar notí- cias, curaretc. e tematizadasquestões polêmicas envolvendo as dinâmicas das redes sociais e os interesses que movem a esfera jornalística-midiá- tica. A questão da confiabilidade da informação, da proliferação de fake news, damanipulaçãode fatos e opi- niões temdestaqueemuitasdashabi- lidades se relacionamcoma compa- ração e análise de notícias em dife- rentes fontes e mídias”. Ainda em âmbito da educação pública, ganha notoriedade também oProjetoCurrículodaCidade, desen- volvidopelaSecretariaMunicipal de Educação de São Paulo (SME), em parceria comaUnesco. Coordenado peloNúcleo deEducomunicação da SME, jácapacitoumaisde25mil pro- fessores e 60mil alunos emprojetos multimídia ede rádio, e suas práticas curriculares incluemdesde a investi- gação de linguagensmidiáticas para a expressão de experiências cotidia- nas eodesenvolvimentodeumolhar crítico sobre a mídia até o fortale- cimento do pensamento científico. Dentre as atividades do projeto, destacam-seoImprensaJovem–uma agência de notícias criada e desen- volvida pelos próprios estudantes, que produzem jornais, programas de rádio, histórias em quadrinhos, fanzines, blogs e pesquisas seguidas de ações práticas sobre cinema, foto- jornalismo e telejornalismo, alémde conteúdos em plataformas digitais, como podcasts – e o curso “Com- bate às Fake News”, implementado em 2019 por meio da participação de 400professores e seismil alunos. Nas instituiçõesprivadasdeensino fundamental e médio, especifica- mente emSãoPaulo, podem-se arro- lar as iniciativas de colégios como Dante Alighieri, Móbile, Pio XII, Santa Maria, Mary Ward, Stockler, entreoutros, quedesenvolvem, desde

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