Revista de Jornalismo ESPM
48 JANEIRO | JUNHO 2020 “ Beber água a cada 15 minutos leva o vírus rapidamente para o estômago – onde será morto pelo suco gástrico .” “ Coma coisas cítricas para matar o vírus .” “ Hospitais de campanha e UTIs vazios .” “ Tome uma injeção de desinfetante .” “ Atletas não se contaminam .” “ É só uma gripezinha .” pouco importa de onde nasceram as bobagens que você leu acima – “informações” desencontradas, sem fontes ou disparates sem qualquer comprovação, que continuam rei- nandonasmensagens deWhatsApp ou nas redes sociais. Essas “informações” podem até soar confiáveis. Afinal, quem disse ou repassou foi o “primo-da-amiga- -do-vizinho-do-rapaz-que-cortou-o- -cabelo-da-vizinha-do-meu-amigo- -que-trabalha-não-sei-onde”... Impulsionadas por bolhas criadas pelas redes sociais e seus algoritmos, que entregam às pessoas aquilo que elas gostam, ficou confortável para todomundo simplesmente acreditar naquiloque vemaoencontrode suas convicções, crenças e desejos – sem que a sua conexão comos fatos pre- cisasse ser comprovada. As barreiras entre opinião e informação, por sua vez, desapareceramparamuitagente. Em meio à pandemia do coronavírus, os números dos principais veículos de comunicação não mentem e também desmentem a tese de que “o jornalismo acabou” – uma cantilena repetida à exaustão nas últimas duas décadas Dessa tempestade perfeita surgi- ram alguns fenômenos muito cla- ros e interligados: o desprezo pelo trabalho jornalístico – adubo ideal para o surgimento das fake news e para a bipolaridade. Afinal, quando tudo vira “conteúdo”, fica difícil ter condições de diferenciar informação dequalidadede invencionices,mani- pulações esimplificaçõesmaniqueís- tas, tipo A ou B. Por isso, se eu con- cordo, está ok. Se eu discordo, está mentindo. Ponto final. Mas algo mudou rapidamente no reino das fake news com a chegada da pandemia de coronavírus. Desta vez, não se trata do disruptivo ato de acreditar ounãonos fatos, deconcor- dar ou discordar deles, de apoiar A ou B (ah, a praga do binarismo...) ou por jorge tarquini ENQUANTO ISSO NO BRASIL... O jornalismo acabou? ILUSTRAÇÃO: SAULO CRUZ
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