Revista de Jornalismo ESPM
52 JANEIRO | JUNHO 2020 blogueiros, vlogueiros, influencers e outros players produzindo“conteúdo” gratuito e acessível, pago comprazer por marcas que compram postagens favoráveis(queojornalismonãopode –ounãodeveria –oferecer). Tal prá- tica acirrou o cenário competitivo e acabou tornando o jornalismo ape- nas “mais um” dos elementos abri- gados sob o guarda-chuva do “con- teúdo” (no qual se atenuam as fron- teiras entre o que é informação jor- nalística, entretenimento, opinião e publicidade – pelo advento de bran- ded content e do inboundmarketing ). Jornalismo pós-industrial Seria a grita geral do fim do mundo (ou apenas do jornalismo) um alerta de tsunami real ou umexagero base- ado na desorientação natural diante deumamudançade cenário, domer- cadoedomodocomoaspessoascon- someminformação?Afinal,arevolução tecnológicadecretouofimdomodelo de jornalismo industrial –ea inaugu- ração de uma lógica pós-industrial. Talvez tenha vindo daí o derreti- mento das grandes empresas e veí- culos ede seusmodelos deprodução edenegócios. Como ser competitivo comopesodegrandesredações,gráfi- cas/estúdiosgigantescos, gerindodis- tribuição – ou seja: gerindo TODAS as etapas produtivas, comomandava o figurino do modelo industrial? E como atuar como veículo de comu- nicaçãodemassanomundoemquea jornadadeconsumodeinformaçãose revolucionoue se tornou individual? Hoje,cadaumvêoquequiser,onde quiser, naplataformadesejadae, prin- cipalmente, na hora em que quiser. Onde antes imperava a decisão do editor reina agora o algoritmo. Não bastamais apenaspautarbem, repor- tarbem, escreverbem, editarbem–e esperar que opúblico consuma tudo na hora e na forma que estamos dis- ponibilizando.Éprecisodominar fer- ramentas e entender o interlocutor, seus hábitos e, principalmente, suas necessidades e desejos. Umolharmaisatentoaoquetemos vividomostraqueaafirmaçãodeque o jornalismo morreu talvez seja um exagero pessimista – emeiomíope... Afinal, qual o nosso produto? Pelo volume de informação que as pessoasbuscameconsomemotempo todo, fica claro que a crise não é do jornalismo, mas do modelo de negó- cios... Assim como a indústria fono- gráfica ficou à beira da morte alguns anosatrás,umavezqueninguémmais queriapagarpormúsica(edá-lhepira- taria!), a indústria da notícia pareceu trilharomesmocaminho.Nocasoda música,inventaramoSpotify:amúsica será sempre de graça, mas você paga a comodidade de poder ouvir a que quiser, na ordem que desejar e sem ser interrompido pela propaganda. No caso da notícia, quem a busca vai atrás de quema ofereça semônus ou pagamentos.Logo,precisamosencon- trar o “Spotify do jornalismo”. Mas omodelo de negócios é ape- nas um aspecto. Isso é perceptível quando vemos novas empresas jor- nalísticas desbravando o mercado compropostas distintas não apenas de monetização. As novas platafor- mas, como Nexo, Meio, Jota, Poder 360ouAgênciaPública, contamcom investidores, assinantes de news- letters, financiamento coletivo por crowdfunding e formatos mistos de receita ( freemium ) –ummodelo que respira tambémnovos ares de forma e conteúdo. Jornalismo mais analí- tico, segmentado (ounichado, como preferemosmarquetólogos), semos- tra ideal para esse tipo de negócio, que pode se tornar (ou já semostra) sustentável sem precisar se agigan- tar. Eles não aspiram (e sabem que não devem aspirar) se tornar con- glomerados da informação. A nova escala é clara: o próprio The New York Times , o “maior jor- nal do mundo”, projeta só chegar a 10 milhões de assinantes digitais em 2025–eestá felizdavidade, emfeve- reirode2020,terchegadoa5milhões. Sócomobasedecomparação, ocanal doYouTube do brasileiroWhinders- son Nunes tem 38 milhões de inscri- tos... Esta comparaçãodescabidanão quer dizer que umémelhor do que o outro. Trata-seapenasde fenômenos dos novos tempos multiplataforma. Significaqueo jornalismoprecisa ser oferecidoemTODOSos lugares/pla- taformas/linguagens/mídiaspossíveis (enãoqueojornalismotenhamorrido – ou esteja agonizante). O esvaziamento das mídias tradicionais não significa o fim da linha para o jornalismo. Não é raro vermos jornalistas de grandes veículos trocando o conforto do sobrenome por aventuras empreendedoras
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