Revista de Jornalismo ESPM

54 JANEIRO | JUNHO 2020 PARA LER e PARA VER LEÃO SERVA LIVRO As memórias do homemque mais entende de jornais no mundo “REDAÇÕES CHATAS PRODUZEM JORNAIS CHATOS.” Esta frase talvez fique para sempre como o mais preciso ensinamento de Juan Antonio Giner, o espanhol que dirigiu o centro de estudos de inovação em jornalismo da Universidade de Navarra e, de- pois, fundou, em 1982, a principal consultoria de mercado e de- sign de empresas jornalísticas no mundo, com sede em Londres. “O bom jornalismo, feito de contar histórias que inquietem, emocionem e façam pensar, não deixará jamais de ter mer- cado” é outra ideia que se fixou como lema de seu trabalho. Nessas pouco mais de três décadas e meia, Giner se tornou um dos maiores observadores da indústria jornalística no plane- ta. Seu vasto conhecimento explica as mais de 800 páginas de seu livro de memórias Historias de Innovation , escrito com o só- cio Carlos Soria. Como destaca o subtítulo, desde que criaram a consultoria Innovation, eles coordenaramverdadeiras revoluções, com sucessos e fracassos, emempresas jornalísticas de 74 países. Nos anos 1980, veículos de todo o planeta sentiam fortes sinais da decadência do modelo econômico do jornalismo industrial, nascido em meados do século 19. Na época, as quedas de publi- cidade e circulação eram atribuídas ao surgimento de novos con- correntes pelo bolso do espec- tador (como TVs por assinatu- ra e videocassete), mas davam sequência a uma tendência de concentração que vinha ma- tando jornais desde o fim da Segunda Guerra Mundial. E a Innovation dava aos clientes uma espécie de ana- bolisante, injeções demoderni- dade gráfica, novos formatos, produtos mais enxutos e um marketing editorial agressivo. Ao longo das décadas, as tá- ticas mudaram, mas a estraté- gia foi sempre a de juntar as áreas de produção dos dife- rentes veículos das empresas de mídia, deixando às áreas de edição a missão de fechar ca- da produto final. Os repórte- res, ou produtores de conteú- do, chamados “caçadores”, tra- balhavam para todos os veícu- los de umconglomerado demí- dia; os editores de cada veícu- lo, chamados “cozinheiros”, ga- rantiamas características espe- cíficas de cada produto. Cente- nas de empresas em todos os continentes adotaram as medi- das recomendadas pela Innova- tion, reduzindo custos de pro- dução, compactando equipes e empacotando omesmo noticiá- rio emestilos diferentes confor- me a personalidade do veículo. Alémdesses trabalhos, a In- novationmanteve várias publi- cações com estudos, estatísti- cas e projeção de tendências de mercado periódicos, co- mo os livretos Innovation in Newspapers , que já foram te- ma destas páginas em diver- sas oportunidades. Historias de Innovation é composto por crônicas que re- latam as experiências nos ca- ses da consultoria, onde os fundadores (além dos autores, tambémPaco Gómez Antón) se encontram com personagens dosmercados de comunicação, jornalistas, estudiosos, consul- tores, clientes, editores, direto- res e proprietários de empre- sas nas quais os três trabalha- ram entre 1982 e 2017. “Não é uma história nem o cial nem o ciosa da Innova- tion, mas inclui dados, expe- riências e observações de co- mo fomos testemunhas e, às vezes, protagonistas das gran- des mudanças experimentadas pela indústria jornalística em todo o mundo”, dizem os au- tores na apresentação do livro. Sou testemunha, pelo la- Juan Antonio Giner palestrou no VII Fórum Aner, que foi realizado em 2013, em São Paulo DIVULGAÇÃO/ANER

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