Revista de Jornalismo ESPM
56 JANEIRO | JUNHO 2020 ENTREVISTA 10 perguntas para o criador da Innovation DE SUA CASA, em Barcelona e durante a quarentena da Co- vid-19, Juan Antonio Giner, 73 anos, concedeu esta entrevista à Revista de Jornalismo ESPM . 1 – Como é possível ser alegre ou animado com as redações ca- da vez menores e as empresas jornalísticas mais fechando do que lançando produtos? JUAN ANTONIO GINER – É difícil, mas não impossível. O jor- nalismo será cada vez mais diversificado e polivalente. Assim, pensar que o jornalismo é feito apenas a partir de redações tradicionais é marginalizar novas maneiras de fazê-lo. O jor- nalismo noticioso não é mais exclusivo dos meios jornalísti- cos, por isso que estamos vendo novos modelos de “jornalis- mo pós-notícias”, com maior ênfase na análise, previsão e ex- plicação de “por que acontece o que acontece”. O escritor ca- talão Josep Pla sempre dizia que ele era jornalista “dez minu- tos antes e 10 minutos depois”. Em outras palavras, é preciso ter tanto capacidade preditiva quanto capacidade explicativa. Diante das breaking news (notícias de última hora), devemos apostar nas breaking views (análises em cima da hora) e na interpretação das notícias. Até agora, prestamos mais aten- ção à parte visível dos icebergs de informação do que ao que não é visto. Um exemplo desse novo jornalismo é o Axios [si- te de notícias norte-americano criado em 2016]. 2 – Há um paradoxo no mer- cado de imprensa: aumenta o interesse por notícias nas re- des sociais, mas não achamos uma forma de remunerar a ati- vidade. Como desatar esse nó? GINER – Verdade. Omodelo fi- nanceiro baseado em publici- dade não funcionamais. Deve- mos diversificar os “fluxos de receita” — desde parcerias de longo prazo (como fez Tortoi- se Media [lançada na Grã-Bre- tanha em 2019]) até desenvol- vimentos tecnológicos (como o Washington Post faz com a ferramenta de publicação Arc), patrocínios, eventos e confe- rências com base na credi- bilidade e prestígio de nos- sas marcas: assim como o Ex- presso em Portugal, Financial Times , The Economist ou The New York Times no que eles chamam de content on stage [o conteúdo no palco], tercei- ra perna de um tripé forma- do com “conteúdo impresso” e “conteúdo on-line”. Sempre há espaço para filantropos dis- postos a investir em novas mí- dias, mas ninguém gosta de administrar empresas que não geram renda, muito menos se não tiverem públicos impor- tantes dispostos a pagar por seu conteúdo. 3 – Se você hoje tiver umcliente que só tenha jornal, rádio ou TV e não tenha ainda entrado no mundo digital, você recomen- daria continuar no mercado? GINER – O negócio baseado em monomídia não tem futu- ro. As empresas pós-jornalísti- cas são multimídia ou não so- breviverão. O melhor exemplo é a Bloomberg, que começou apenas como um serviço ele- trônico de informações finan- ceiras e hoje é diversificado em todas as plataformas possíveis. De qualquer forma, é necessá- rio fazer alterações quando as coisas estão indo bem. Quando há problemas sérios, há apenas as três opções de Jack Welch: “Consertar, vender ou fechar”. 4 – Se fosse dar um conselho a um grande empresário dispos- toa investir emjornalismo, qual negócio você recomendaria? GINER – Eu estudaria esse mercado primeiro e procura- ria as oportunidades, porque DIVULGAÇÃO
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTY1