Revista de Jornalismo ESPM
REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 57 não existem soluções infalí- veis. Mas começaria recrutan- do pessoas jovens e valorosas. O talento é o mais importante de tudo. Foi assim que Rober- to Civita entendeu quando fun- dou Veja e publicou aquele fa- moso anúncio que dizia: “Es- tamos à procura de homens e mulheres inteligentes e insatis- feitos, que leemmuito, sempre perguntam ‘por que’ e querem colaborar na construção do Brasil de amanhã”. Se hoje a Editora Abril e outras grandes empresas jornalísticas do pas- sado não o são mais, é porque não souberam recrutar e reter novos talentos, “focas” como os que tornaram Veja possível. 5 – Da mesma forma, se vo- cê fosse aconselhar um jovem empreendedor, sem dinheiro, mas commuito desejo de criar uma empresa no ramo da in- formação, qual negócio você recomendaria a ele? GINER – De novo, isso depen- de do mercado em que ele queira operar, mas eu acon- selharia a pensar em empre- sas onde a credibilidade se- ja um fator diferencial, espe- cialmente quando o restante da mídia não tem. Esse foi o segredo do grande sucesso do jornal Reforma , no México. 6 – Ao longo das décadas, quantas empresas brasilei- ras a Innovation aconselhou? Quantos casos de sucesso vo- cê pode nos apontar? GINER – Não sou eu quem deve dizer isso, mas nossos clientes. Nossa expansão no Brasil sempre foi feita por re- comendações de clientes sa- tisfeitos que acabaram sen- do grandes amigos: da famí- lia Mesquita, em O Estado de S.Paulo , até os Marinho, em O Globo , os Civita, na Editora Abril, ou os Sirotsky, na RBS. 7 – Ao longo das últimas déca- das, a Innovation recomendou uma fusão das áreas de produ- ção de conteúdo dos conglo- merados jornalísticos (“caça- dores”) e a separação dos pro- cessadores/editores de cada veículo para dar personalida- de (“cozinheiros”), preservan- do os veículos tradicionais. Pa- ra Marshall McLuhan, o meio é mensagem: como é possível conseguir manter a natureza específica de cada meio se a produção é única para todos? GINER – Respeitando o DNA de cada marca. Cooperar não é unificar. Sempre acreditáva- mos e acreditamos na estra- tégia de “uma cozinha, vários restaurantes”, mas tambémno “juntos, mas não misturados”. O jornalismo de “lobos solitá- rios” não tem futuro. 8 – Coma redução completa do mercado em todos os formatos tradicionais (TV, rádio, jornais) hoje você crê que faz sentido manter meios/veículos analó- gicos? Não é o caso de apostar tudo em formatos digitais? GINER – Tudo depende de sua qualidade, credibilida- de, talento e hábitos de con- sumo: o melhor exemplo é o francês Le 1 , um microsse- manário impresso, do ex-di- retor do Le Monde Éric Fotto- rino. É um caso de “alta cos- tura” em comparação com o prêt-à-porter . 9 – Que exemplos você cita de empresas jornalísticas que ainda hoje conseguem “contar histórias que inquietem, emo- cionem e façam pensar”? GINER – Pensoque toda grande publicação faz isso com maior ou menor frequência: eu sem- pre fico empolgado quando leio e releio a reportagem TheLone- ly Death of George Bell (A mor- te solitária de George Bell, NY Times , 17/10/2015), sobre um dos 50 mil nova-iorquinos que morrem sozinhos e abandona- dos em casa a cada ano; o dra- ma da solidão nas grandes ci- dades, algo que agora é outra pandemia social na época de Covid-19. Sou assinante da The New Yorker porque eles conti- nuam investindo “talento, tem- po e dinheiro” nessas histórias. Se, como dizem os argentinos, para fazer algo sério, você pre- cisa de “músculos e carteira”, a publicação desse tipo de repor- tagem não pode ser feita com jornalismo de “baixo custo”. Sem cacau não tem chocolate. 10 – Muitos analistas viramnas quarentenas provocadas pela Covid-19 uma redenção do jor- nalismo, pelo aumento de de- manda. Mas a primeira coisa que muitas empresas fizeram foi levantar seus paywalls , vol- tando a dar notícias de graça. Isso foi uma boa saída? GINER – Eu não teria feito is- so, com exceção dos veículos que já possuemmilhões de as- sinantes pagos e que podem se permitir essa gratuidade tem- porária. Se você não tiver re- ceita suficiente em publicida- de impressa ou digital, vol- tar ao “grátis total” é suicídio. Portanto, se nosso conteúdo é essencial, de alta qualidade e nossa marca jornalística é in- dependente e tem credibilida- de, você deve pagar, agora e sempre. Quem paga, manda. Já vivemos numa “cultura de assinaturas”. Netflix, Amazon Prime, Disney ou HBO não abri- ram suas plataformas e nesses meses cresceram mais do que nunca. Não me surpreende. ■ Site do jornal Reforma , que é sinônimo de credibilidade noMéxico DIVULGAÇÃO
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