Revista de Jornalismo ESPM

4 JANEIRO | JUNHO 2020 hiperpolarização , hiperpartida- rismo, hiperexposição, hipersensi- bilidade, hiper-realismo. Em tem- pos de abundância de informação, vivemos a era dos extremos. Se, por um lado, o avanço da tec- nologia e a popularização das redes sociais trouxeramuma nova dimen- são para a liberdade de expressão, por outro, temos experimentadoum crescimento brutal da intolerância e da proliferação do discurso de ódio. Não são poucos os exemplos recentes de ataques virtuais àque- les que ousam pensar diferente da turba barulhenta e agressiva que se apresenta em redes sociais como Twitter e Facebook. Basta acompa- nhar, por alguns dias, os assuntos mais comentados nestas redes para verificar que onível dodebate alcan- çou ares de verdadeiras batalhas vir- tuais, onde o quemenos importa é a verdade dos fatos. Nãoadiantamostrar quedetermi- nada afirmação é falsa, que aquela mensagemfoi deturpadaouestá fora de contexto. Se amensagemviraliza, independentemente da fonte ou da racionalidade do assunto, torna- -se motivo para a abertura do rin- gue digital. A falta de interesse em aceitar a opinião diferente reduz o debate à superficialidade de um filme B e traz à tona uma deficiência cada vez mais prejudicial ao aperfeiçoamento da democracia: a falta de disposição para exercer o contraditório. Critica-se tudoe todos,mas não se usa a liberdade de expressão como instrumentoparamudar a realidade. Nos últimos tempos, o diálogo vem perdendo espaço e com isso vivemos permanentemente numa briga de torcidas. Uma espécie de Fla–Flu digital, de maniqueísmo exacerbado, emque discordar não é uma arte, e sim uma afronta. Como não há cultura para aceitação da crí- tica, busca-se incentivá-la pormeio de campanhas anônimas, amplifica- das pela facilidade de disseminação que a internet proporciona. Além da agressão individual, uma outra forma de violência se caracteriza pela rejeição, em bloco, de pensamentos divergentes. Mais do que uma patrulha ideológica, digamos assim, é uma recusa pura e simples ao ato de ouvir e dialogar. Apráticado“cancelamento”, onde grupos propõem que determinado perfil deve ser apagado das redes, é um exemplo real e cruel da falta de tolerância. A era dos extremos Cultura do politicamente correto incentiva a disseminação do discurso do ódio nas redes sociais, reduz a qualidade do debate e restringe a liberdade de expressão em toda a sociedade IDEIAS + CRÍTICAS PATRICIA BLANCO

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