Revista de Jornalismo ESPM
58 JANEIRO | JUNHO 2020 MÍDIA Paywalls : os muros estão caindo ABALADA PELA QUEDA da receita de publicidade, que já era pouca, a indústria jor- nalística corre o risco de sair da pandemia do novo coro- navírus ainda menor do que entrou, apesar dos aumen- tos vertiginosos registrados na audiência. Isso se deve a ameaças aos mecanismos que garantem a identificação e a cobrança dos espectado- res quando acessam as pági- nas digitais com conteúdos jornalísticos. Os chamados paywalls (mu- ros de pagamento, em tradu- ção livre) funcionam como barreiras que impedem a na- vegação de quem não paga pelo conteúdo. Eles podem ser “porosos”, quando permitem a leitura gratuita de alguns artigos, ou “rígidos”, quan- do bloqueiam todo o conteú- do para quem não é pagante. Esses sistemas se torna- ram onipresentes depois que Wall Street Journal , New York Times e Financial Times , entre outros, apresentaram resul- tados positivos com receitas obtidas de leitores pagantes. Enquanto isso, o britânico The Guardian usou o paywall para identificar o leitor não- -pagante e pedir a doação de uma espécie de assinatura opcional. No Brasil, a Folha de S.Paulo adota o sistema “po- roso”, O Globo tem um mo- delo rígido e o Estadão ope- ra com áreas porosas e ou- tras rígidas. Até alguns meses antes da pandemia, a indústria jorna- lística seguia declarando o paywall como solução para garantir a transição para um consumo pago de notícias, depois de décadas em que os jornais ofereceram seus pro- dutos de graça. O modelo do relaciona- mento parecia o melhor dos mundos: com uma boa cartei- ra de leitores pagantes iden- tificados, as empresas jorna- lísticas ganham dinheiro de “circulação”; ao mesmo tem- po continuam a vender anún- cios, mantendo vivo o antigo modelo de relacionamento entre leitor e páginas de in- formação, em que o anúncio se intromete entre os olhos do consumidor e a notícia que ele quer ler. Mas aí chegou uma no- va ameaça: as mais recen- tes gerações de softwares de navegação, os browsers , bloqueiam facilmente a ca- pacidade de os sites iden- tificarem seus usuários (e contarem o número de tex- tos lidos). Como os usuários aprenderam também a blo- quear anúncios, a possibili- dade de perder as poucas re- ceitas, que vinham crescen- do até 2019, é muito grande. “Agora parece que o úni- co caminho a seguir para pu- blicações on-line é conven- cer-nos a assinar voluntaria- mente. Ou criar um site fe- chado que exija um nome de usuário e senha, o que nor- malmente levará a uma que- da acentuada nos leitores e a uma perda progressiva de relevância, como muitas mí- dias regionais e locais na Es- panha fizeram”, escreveu o estudioso de inovação digi- tal e professor da UCLA Enri- que Dans em um artigo deno- minado The paywalls are tum- bling down (cuja tradução dá título a este artigo). Ao mesmo tempo, as em- presas jornalísticas parecem não crer totalmente no valor das notícias que produzem: com a chegada da pandemia, com milhões de leitores em casa, sedentos de informa- ção, inúmeros sites noticio- sos franquearam suas pági- nas gratuitamente, em nome do interesse público. ■ The paywalls are tumbling down Enrique Dans Medium.com - Agosto/2019 REPRODUÇÃO SÉRIE Uma luz no fim do túnel AFTER LIFE é uma série difícil de definir entre estilos normal- mente excludentes: ela é trági- ca, triste, romântica e de hu- mor. Produzida, dirigida e es- trelada por Ricky Gervais, con- ta a história de Tony, repórter de jornal gratuito em uma pe- quena cidade (ficcional) ingle- sa, que não se conforma com a morte da mulher, Lisa (Kerry Godliman). Ele pensa em suicí- dio, mas só não o consuma por- que amulher pediu que ele cui- dasse do cachorro dos dois. A cada dia, ele cumpre um pesado ritual de seguir vivendo, mostrando-se sempre uma pes- soa amargurada e com humor ácido. A primeira temporada é composta de histórias emtorno do luto. Já a segunda tempora- da revela o caminho da supe- ração, com Tony começando a flertar com Emma (Ashley Jen- sen), de forma atabalhoada, e manifestando empatia com os personagens da pequena ci- dade, que procuram a reda- ção para contar suas histó- rias, “aparecer no jornal”, co- mo prova de que estão vivos. O sucesso da primeira e da segunda temporadas já ga- rantiu o anúncio de um ter- ceiro ano, a ser veiculada pe- la Netflix em 2021. DIVULGAÇÃO
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