Revista de Jornalismo ESPM
REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 59 LIVROS Marcas da escravidão permanecem como característica nacional dos EUA DESDE QUE Caetano Veloso resgatou a frase nos versos iniciais da canção Noites do Norte (2000), o pensamento de Joaquim Nabuco se tornou uma citação onipresente em discussões sobre desigualda- de social e racial e para a com- preensão do Brasil: “A escra- vidão permanecerá por mui- to tempo como a característi- ca nacional do Brasil”. Embora tenhamos sido o último país do Ocidente a ex- tinguir a escravidão, a frase do abolicionista brasileiro, em seu livro Minha Formação , po- de perfeitamente servir para a compreensão dos Estados Uni- dos (onde a Guerra Civil ter- minou com a escravidão, em 1865). As cicatrizes norte-ameri- canas desse traumático pro- cesso de imigração forçada e trabalho cativo são o tema do livro American Poison ( Vene- no Americano , Alfred A. Kno- divisões cada vez mais acen- tuadas dos Estados Unidos, que atualmente parece um espelho invertido dos anos de afirmação dos movimen- tos de direitos civis, meio século depois. Não é coinci- dência que ao mesmo tem- po que alguns segmentos da sociedade comemoravam os aniversários das Marchas de Selma e Washington (gran- des manifestações lidera- das por Martin Luther King nos anos 1960), outros rin- cões do país passavam re- gras eleitorais para limitar o voto dos eleitores negros. Porter mostra que as divi- sões de natureza racial se ma- nifestam em todos os aspectos da sociedade norte-america- na, incluindo aqueles setores que se consideram imunes ao racismo. E nisso os america- nos do norte se parecem com a tradição brasileira, que ne- ga o racismo. ■ pf, 2020, ainda não publicado no Brasil), do jornalista Edu- ardo Porter, repórter de eco- nomia do The New York Times . De origemmexicana, antes de trabalhar no jornal nova-ior- quino, foi correspondente em Tóquio, Londres, Los Angeles e São Paulo. Formado em economia e finanças, Porter é autor tam- bém de O Preço de Todas as Coisas (Objetiva, 2011). Co- mo no livro anterior, ele é um prolífico produtor de da- dos econômicos que em Ame- rican Poison , com reconheci- da erudição, junta e proces- sa com manifestações políti- cas, comportamentais e cul- turais para mostrar como a segregação racial segue divi- dindo a América e movendo a opinião política e eleitoral de grande parte da socieda- de ianque. O livro apresenta a ques- tão racial como matriz das REPRODUÇÃO Minha formação Joaquim Nabuco, 1900. Várias edições American Poison Eduardo Porter, Editora Aldred A. Knopf, 2020 REPRODUÇÃO O preço de todas as coisas, Eduardo Porter, Editora Objetiva, 2011 REPRODUÇÃO SÉRIE Álbum de família DEPOIS DE OUVIR desde a in- fância os relatos dos profun- dos traumas dos pais tortu- rados durante a ditadura mi- litar (1964-85), o jornalista Matheus Leitão decidiu fazer uma reportagem ampla sobre o episódio, que virou livro: Em Nome dos Pais (Editora Intrín- seca, 2017). Em sua apuração ouviu mi- litantes de esquerda e milita- res, identificou os torturado- res e entrevistou o delator dos pais. Três anos depois de lan- çado, o livro foi agora adap- tado para uma série de qua- tro episódios produzida para a HBO. Matheus é filho dos jorna- listas Marcelo Netto e Miriam Leitão, que foi presa na dita- dura como militante de es- querda, atacada pela militân- cia petista como “golpista” du- rante os governos Lula e Dil- ma, e agora sofre perseguição pelas milícias bolsonaristas. Na versão televisiva da re- portagem, foi ouvido o então deputado Jair Bolsonaro, ho- je presidente da República, e também o ministro Luís Ro- berto Barroso, do STF. DIVULGAÇÃO
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