Revista de Jornalismo ESPM
62 JANEIRO | JUNHO 2020 LIVRO “Bolsonaro é paranoico e certo de que não tem tamanho para o cargo” THAÍS OYAMA cobriu a cam- panha presidencial de Jair Bolsonaro em 2018. Em 2019, acompanhou o primeiro ano de mandato. Logo no início de 2020, lançou Tormenta: O Go- verno Bolsonaro (Companhia das Letras), que faz um retra- to deprimente do dia a dia do presidente e sua equipe. Como acontece quando é criticado pela imprensa, Bol- sonaro reagiu com agressivi- dade. E foi grosseiro e racista: “Esse é o livro dessa japone- sa, que eu não sei o que faz no Brasil, que faz agora contra o governo”; ou “Lá no Japão ela ia morrer de fome com jorna- lismo, escrevendo livro”. Tha- ís é tão brasileira e tão des- cendente de imigrantes quan- to Bolsonaro. Nesta entrevista à Revistade JornalismodaESPM , ela comen- ta a crise que se estabeleceu no Planalto desde o início da pan- demia do novo coronavírus: ESPM – O comportamento de Jair Bolsonaro durante a pan- demia te surpreende? Thaís Oyama – Não, é uma continuação. Ele não saiu do lugar, acha as mesmas coisas, não mudou de idéias ou dis- curso, radicalismo ou princí- pios. A diferença é que agora ele é presidente da República e tem uma visibilidade maior. ESPM– Essecomportamentofoi potencializadodepoisdafacada? Thaís – Não creio. A paranoia é uma característica desde que ele era deputado. Quan- do deputado, ele todo dia olhava embaixo do carro pa- ra ver se não havia bombas; não tomava água do aparta- mento funcional. Ele é um pa- ranoico que tomou uma faca- da. E o filho Carlos herdou es- se traço dele, ele é completa- mente paranoico. ESPM– E a dificuldade de for- mar e manter equipe? Thaís – Desde o início do go- verno ele é assim: ele cha- mou para o ministério o ge- neral Santos Cruz, amigo de 30 anos, o Gustavo Bebiano, companheiro de campanha. Mas logo se sente ameaçado e rompe. Ele só se sente bem no ambiente familiar. E o am- biente palaciano potenciali- za esse aspecto da persona- lidade dele. Como todos sa- bem, o clima de intriga é mui- to acentuado, qualquer teoria de conspiração cola. Então, o traço paranoico define o com- portamento de todo o minis- tério: não há adversários, há inimigos. Aliados têm que ser 110% fiéis. Ele vive com a ideia de que todo mundo está tra- mando contra ele. ESPM – Você acha que isso é uma prova de poder ou um sentimento de inferioridade? Thaís – Ele assumiu a presi- dência intimamente certo de que não tinha tamanho para o cargo. Em uma viagem du- Presidente Jair Bolsonaro, sobre a pandemia da Covid-19: “Morre mais gente de pavor do que do ato em si” DIVULGAÇÃO
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