Revista de Jornalismo ESPM
14 JULHO | DEZEMBRO 2020 o jornalismo sempre foi bom na cobertura do que é imediato, quando há pressa para a divulgação dos fatos. O time da casa ganhou. Uma idosa levou um tiro. Um presidente foi eleito. Quanto mais depressa avança a notícia, quanto mais comprimido o drama, maior nossa capacidade de relatar o ocorrido. Já quando é preciso calma para desacelerar e ir mais devagar, a apura- ção fica bemmais difícil. Histórias que contêm sutilezas, que evoluem ou que não têm um ponto final não são nosso forte. Racismo, pobreza sistê- mica e efeitos de longo prazo de políticas ultrapassadas são, todos, assun- tos que dão um nó na nossa cabeça. Corremos atrás do fato, do imediato, do efêmero — e ignoramos o sísmico, o fundamental. As razões são compreensíveis. Relatar um acontecimento é mais fácil do que investigar, a fundo e com calma, personagens e burocracias com- plexas. Na televisão, o tempo é curto; no impresso, o espaço é limitado. A gratificação desse corre-corre é superficial, mas imediata. Na última década, a invasão de mídias sociais fez a verba e a capacidade de concen- tração das redações encolherem. Não raro, cliques substituemnossa cons- ciência como árbitros definindo aquilo que é ou não notícia. Mas isso tudo é imperdoável. Ovalor do jornalismo já não está emcontar o que aconteceu ontem (para isso, temos o Twitter). A tarefa que se impõe é examinar eventos comatenção e profundidade e pensar omomento não como algo isolado, mas parte de umcontextomaior. Quando o estado ame- ricano da Califórnia foi assolado por incêndios florestais no ano passado, Oclima esquentou! por kyle pope apenas 3% das notícias veiculadas naTVmencionaramque amudança climática poderia ter tido algo a ver coma intensidade do estrago. Via de regra, repórteres forammeros este- nógrafos da tragédia. Estouconvencidodeque a incapa- cidade da imprensa de cobrir devi- damente a questão climática entrará para a história como um dos gran- Estamos começando a erguer uma rede capaz de informar ao mundo que não é tarde demais para nos salvarmos SHUTTERSTOCK
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