Revista de Jornalismo ESPM

REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 17 que o endosso da CJR— e o fato de que organizações tradicionais como CBS News aderiram à iniciativa — pudesse servir de alento para exe- cutivos demeios preocupados com o efeito que a cobertura climática produziria. Na questão dos recur- sos, não pedimos a ninguém que contratasse mais gente; o que fize- mos foi incentivar todos a repensar editorias, a converter todo mundo na redação — do chefe de reporta- gem ao pessoal de esportes, eco- nomia e cultura — em jornalista do clima. O último entrave — que veí- culos de comunicação, inclusive os grandes, não sabiampor onde come- çar — parecia deprimente a princí- pio, mas depois nos trouxe espe- rança. Se osmeios estavammal apa- relhados para contar a históriamais importante dos nossos dias, forne- ceríamos os instrumentos. Nosso modesto começo — um pedidode atenção—produziu resul- tados impressionantes. Naquela semana de setembro, mais de 300 veículos participaram da Covering Climate Now, incluindo alguns dos meiosmais lidos domundo. Juntos, publicaramou transmitirammais de 3.600 reportagens para umpúblico somado de mais de 1 bilhão de pes- soas. Segundo o Google Trends, buscas sobre a questão climática em setembro de 2019 atingiram o maior nível na história do busca- dor. De lá para cá, o número de par- ceiros do projeto já ultrapassou a marca dos 400, comumpúblicoque, somado, chega a quase 2 bilhões de pessoas. E estamos só começando a erguer uma rede capaz de informar ao mundo que não é tarde demais para nos salvarmos. Nossa esperança é que esta edição possa começar aelucidar oqueépre- ciso para que o jornalismo climático surta efeito. Ouvimos, por exemplo, a opinião de Emily Atkin, repórter climática que se sentia tolhida por formatos tradicionais de narrativa (“Foi difícil ocultarminha sensação de alarme”, explica), e de Michael Specter, jornalista que crê na capa- cidade dos fatos de transmitir a gra- vidade da crise. Obviamente, nãohá comoabordar toda a crise climática emuma única edição—desta ou de qualquer outra revista. Podemos, no entanto, usar a ocasiãopara sondar o trabalho sendo feito e pensar emcomo poderíamos melhorar. Não hámelhor expressão da missão da CJR. Fizemos, também, o esforço de produzir uma revista que leva sua temática a sério. A edição em papel da CJR foi feita com 100% de material reciclado pós-con- sumo, impresso com tintas à base de vegetais e soja. A Allied Prin- ting, a empresa contratada para produzir a revista americana, tem uma pegada de carbono zero; quase 75% da energia usada em suas ins- talações é de fontes eólica e solar. Para minimizar ainda mais nosso impacto no clima, decidimos impri- mir metade da tiragem normal, o que ajuda a compensar os custos da impressão e da distribuição ecolo- gicamente corretas. Também fize- mos todo esforço possível para reduzir deslocamentos de nossos jornalistas e fotógrafos. Chegamos a umdivisor de águas, que representa omomentoda virada para o jornalismo e o planeta. Velhas ideias que desviavam nossa aten- ção da mudança climática — que o tema era polarizador demais, complicado demais e representava dinheiro jogado fora — se prova- ram erradas. Velhas formas de nar- rar fatos — rápidas, sem ajudar o leitor a estabelecer conexões cru- ciais — não servem para enfrentar a crise à nossa frente. Devemos ao público, e à nossa consciência, um agir commais reflexão. Amudança climática é a história de nossos tem- pos. O jornalismo será julgado pela forma como narra essa devastadora realidade. ■ kyle pope é editor-chefe e publisher da Columbia Journalism Review . Texto publicado na edição impressa da Columbia Journalism Review (spring 2020), disponível emwww.cjr.org SHUTTERSTOCK

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