Revista de Jornalismo ESPM
20 JULHO | DEZEMBRO 2020 me sentia como uma criança se afo- gando em uma praia lotada, com meus gritos por socorro ignorados por todos. Será que não estava gri- tando alto o suficiente? Em agosto de 2015, pedi arrego. Apavorada com a crise climática, pessimista sobreo futuroe constran- gida pela minha própria ineficácia, perguntei a meu chefe se podia ser transferida para a seção de política. A resposta foi sim. Nos onzemeses que se seguiram, corri o país para cobrir a campanha à presidência, tentando reacender a chama que a cobertura da ques- tão climática apagara. No começo, foi maravilhoso. Cobrir política era umjogo rápido, competitivo. Era um tema mais variado. Na primeira vez que fui a Iowa, vi o candidato repu- blicano Ted Cruz prometendo ser “antiestablishment”, vi defensoras da saúde damulher atirando preser- vativos na candidata Carly Fiorina, vi umestudante universitário repu- blicano confrontando outro candi- dato,MarcoRubio, sobre amudança climática. O leitor parecia dar bola para o que eu escrevia. Em termos de tráfego,meus textos estavamindo bem. Recebia e-mails simpáticos. Não demorou, no entanto, para eu perceber que cliques não eram um indicador real de impacto. Ali no ThinkProgress , eu não estava mudando a opinião de ninguém; estava só dando munição para a fúria progressista. Emjulho de 2016, quandoTrump foi confirmado como o candidato doPartidoRepublicano, fui cobrir política para o Sinclair Broadcast Group, um grupo de TV de inclinação sabidamente conser- vadora com emissoras em “swing districts” – zonas indecisas – em todo o país. OtrabalhonaSinclair pareciauma oportunidade para fazer avançar a compreensão que o público tinha de muitos temas, sobretudo o da mudança climática. Durantemeses, trabalhei emuma reportagemsobre como a elevação dos níveis do mar ameaçava a Base Aérea de Langley, naVirgínia. Consegui colocar vários militares de alta patente para expli- car, diante das câmeras, a ameaça ao meio ambiente. Entrevistei umcon- servador de um centro de estudos que admitiu que essa elevação era uma ameaça que as Forças Arma- das teriamde enfrentar. Na esteira, fiquei à espera da reação dos espec- tadores – que nunca veio. Quando Trump foi eleito pre- ILUSTRAÇÃO: SONIA PULIDO
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