Revista de Jornalismo ESPM
REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 29 dução de petróleo ocorre em terras da tribo. A imprensa indígena tam- bém deixa a desejar: 75% das pla- taformas de mídia indígenas são controladas por governos tribais ou grupos de interesses. O resul- tado é uma cobertura que tende a ser ditada por pautas políticas – e não por fatos. Povos indígenas estão entre os mais vulneráveis do país a mudanças climáticas. Entre comunidades indígenas no Alasca, até 30 aldeias costeiras terão de ser deslocadas devido à elevação dos níveis do mar. Isso posto, em meio a toda a cobertura dessa tra- gédia que lentamente se avizinha, pouca atenção foi dada à contri- buição das chamadas Corporações Nativas do Alasca, que são as maio- res proprietárias privadas de terra no estado e foram criadas expres- samente para explorar a extração de recursos dessas terras. De acordo com o Government Accountability Office (GAO, órgão de controle da União nos Estados Unidos), nações indígenas e seus cidadãos são, coletivamente, o ter- ceiro maior detentor de recursos extrativos como petróleo, gás e car- vão no país. Para economias indí- genas soberanas com oportunida- des limitadas de geração de receita, essas jazidas exercem alto apelo. Isso significa que povos indígenas precisam lidar não só com a inves- tida de corporações privadas, mas também com a exploração da terra por suas próprias lideranças. É pre- ciso uma cobertura lúcida sobre a complexidade desses atores – sob o risco de distorcermos o entendi- mento público de comunidades afe- tadas pelamudança climática e dos responsáveis por ela Quando a audiência pública em Linton terminou, já bem depois da meia-noite, voltei ao hotel onde estava hospedada na reserva Stan- dingRock. Enquantodirigia, ia refle- tindo sobre minha decepção com o setor no qual trabalhei por 21 anos. Embora os protestos de Standing Rock tivessem inspirado redações de tudo quanto é porte a melho- rar a cobertura de questões indí- genas, naquele dia quase nenhum meio – nemmesmo o Indian Coun- try Today , que firmara uma parce- ria coma AP – aparecera. Mais uma vez, aqueles quemais erguiama voz pela justiça ambiental eram silen- ciados pela imprensa. Cruzei o rio Missouri, vibrante ao luar, e pensei no poema “Ancho- rage”, de JoyHarjo, cidadã da nação Muscogee Creek e atual poeta lau- reada dos Estados Unidos. “Quem acreditaria na fantástica e terrível história da nossa sobrevivência; aqueles que nunca deveriamsobre- viver”, escreveu ela sobre a resiliên- cia indígena. Em nossa emergên- cia contemporânea, povos indíge- nas estão, como sempre, na linha de frente. Será preciso força para contar as histórias de um planeta em aquecimento. Amenos que jor- nalistas saibam que a crise climá- tica é uma história indígena, sua representação dela provavelmente será distorcida. E essa talvez seja a maior catástrofe de todas! ■ jenni monet é cidadã do Pueblo de Laguna e jornalista independente, especializada em temas indígenas Protesto contra o oleoduto na Dakota do Norte (EUA) realizado em setembro de 2016 REPRODUÇÃOFACEBOOK/DALLASGOLDTOOTH
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