Revista de Jornalismo ESPM

30 JULHO | DEZEMBRO 2020 por betsy hartmann em novembro do ano passado, o apresentador americanoTucker Carl- son convidou Justin Haskins, diretor editorial do Heartland Institute, para falar sobre mudança climática em seu popular programa na Fox News. O Heartland Institute é um think tank dos céticos do clima e, dada a atração da Fox News pela desinformação climática, a aparição de um porta-voz seu no canal não foi surpresa. “Os milhões de ame- ricanos que sintonizam a Fox News são regularmente bombardeados com mensagens destinadas a solapar a ciência climática, retratar ati- vistas do clima como histéricos e apresentar a política climática como algo perigoso e antiamericano”, diz um relatório do grupo de defesa do consumidor Public Citizen. O episódio trouxe, no entanto, algo distinto da retórica típica da Fox News. O discurso de Haskins pôs de lado o negacionismo nu e cru para culpar imigrantes pela depredação do planeta – ideologia conhecida como greening of hate ou ódio verde. Supondo que a mudança climática seja realmente causada pelo homem, divagou Haskins, por que então deixar entrar aqueles imigrantes todos de países como México e Guatemala, onde a emissão de CO 2 per capita é muito menor do que nos Estados Unidos? Carlson agarrou a deixa: “Aglomerar o país não seria a maneira mais rápida de despojá-lo, de poluí-lo, de torná-lo um lugar no qual você não gostaria de viver?”. Os dois repetiam uma linha de raciocínio volta e meia empregada pela Mídia de direita: os ecofascistas Ondas de calor extremo, chuvas torrenciais, queimadas, secas e inundações dificultam a defesa do negacionismo climático rede Tanton, uma reunião de mais de dez grupos anti-imigração nos Estados Unidos fundados ou ban- cados por John Tanton, um oftal- mologista doMichigan quemorreu em julho do ano passado. Tanton acreditava que a raiz da destruição ambiental é a superpopulação pelo tipo errado de gente. Para proteger tanto a natureza como a nação, era precisomanter a supremacia branca, impedindo para tanto a chegada de imigrantes. Tanton era um operador polí- tico astuto. Na década de 1970, foi um dos líderes do Sierra Club e da Zero Population Growth. Tam- bém era fera para levantar fundos. Ao longo dos anos, teve o generoso apoio financeiro de Cordelia Scaife May, uma das herdeiras da fortuna do clã Mellon. Foi com esse apoio que Tanton criou uma leva de enti- dades anti-imigração, incluindo a influente Federation for Ameri- can Immigration Reform, a Num- bers USA e o Center for Immigra- tion Studies (CIS). Tanton explo- rou dois medos da sociedade ame- ricana – o da superpopulação e o da destruição ambiental – para atrair ambientalistas sérios para o campo nativista. No início, deu certo. Já na década de 1990, quando a rede ten- tou assumir as rédeas doSierraClub, uma coalizão de ativistas progres- sistas resistiu (emnome da transpa- rência, tenho de dizer que fiz parte da coalizão). A rede permaneceu basicamente fora do radar da mídia liberal até a eleiçãodeDonaldTrumppara a pre- sidência. Vários dos principais asses- sores e braços direitos de Trump –

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