Revista de Jornalismo ESPM

32 JULHO | DEZEMBRO 2020 importante fonte de desinformação sobre imigração para a campanha deTrump em2016. EoCIS cultiva o acessoàmídia liberal aodisfarçar sua plataforma com a linguagem neutra de pesquisas e estatísticas. Umestudo da Define American e do Center for Civic Media do MIT revelou que de 2014 a 2018 mais de 90% das referências ao CIS nos jornais Washington Post , New York Times , Los Angeles Times e USA Today foram feitas “sem informa- ções contextualizando a natureza do grupo ou seus laços com o governo Trump”. Em janeiro, o New York Times deu umtexto de opinião anti- -imigraçãodeautoriadeummembro do CIS que se identificou, no título, como “liberal”. Foi, provavelmente, uma tentativa de dissociar a imagem da organização de umrótulomenos favorável: “grupo de ódio”, como o CIS foi classificado pela organiza- ção de defesa de direitos civis Sou- thern Poverty Law Center. Otratamentodadopelamídiacon- servadora àmudança climática é de extrema importância. A opinião de republicanosmoderados que defen- dem a ação bipartidária nessa área, seja pela tributaçãodo carbono, pelo investimento emenergias alternati- vas ou por melhoras na infraestru- tura, garantemmuitomais espaçodo que o obtido atualmente em meios de direita como Fox e Breitbart e em jornais conservadores como o Wall Street Journal . Ao mesmo tempo, a mídia libe- ral precisa assumir umpapel muito maior na educação do público sobre o que realmente é necessário abor- dar ediscutirquandoogoverno fede- ral um dia decidir criar uma polí- tica nacional sobre o clima. Anos de negacionismo climático deixa- ram o público basicamente sem saber o que realmente é necessário para que a transição de um mundo movido a combustíveis fósseis seja eficaz e equitativa. Éde igual e vital importância que amídia liberal exponha a influência da rede Tanton. Para garantir que a rede sejamonitorada de forma séria e contínua, não seria o casode desta- car repórteres para cobrir suas ativi- dades?Dias depois da publicação do texto doCIS no NewYorkTimes , um advogadodaTantonescreveuno site da organização que o crescimento populacional causado pela imigra- ção produzia emissões de carbono, poluição e devastação da natureza nos Estados Unidos. É preciso cor- rigir essa narrativa em vez de dar uma plataforma à desinformação. Há muito em jogo para o meio ambiente. E também há muito em jogo para a segurança e a defesa de imigrantes. Os supremacistas bran- cos responsáveis pelas chacinas em El Paso (EUA) eChristchurch (Nova Zelândia) no ano passado justifica- ramos atos de violência contra imi- grantes empartepor razões ambien- tais. “Omeio ambiente estápiorando a cada ano”, lamentou o atirador de El Paso em seu manifesto. “Amaio- ria de vocês é teimosa demais para mudar o estilo de vida. Portanto, o passo seguinte, pela lógica, é dimi- nuir o número de gente que usa recursos na América.” Oatirador de Christchurchsedeclarouumecofas- cista preocupado comas ameaças da mudança climática, da superpopu- lação e da imigração: “É um só pro- blema, o meio ambiente está sendo destruído pela superpopulação, nós europeus somos umdos grupos que não estão superpovoando omundo. Os invasores são os que superpo- pulam o mundo. Mate os invasores, acabe coma superpopulação e, com isso, salve o meio ambiente”. Com o negacionismo climático radical em queda entre conserva- dores, é bem provável que a rede Tanton redobre a aposta no meio ambiente para promover políticas anti-imigrantes, vestindo o lobo em pele de cordeiro. Agora é a hora de impedir umsério ressurgimento do ódio verde. ■ betsy hartmann é professora emérita do Hampshire College de Massachusetts e autora do livro The America Syndrome: apocalypse, war and our call to greatness Amídia liberal precisa assumir um papel maior na educação do público sobre o que realmente é necessário abordar e discutir quando o governo federal criar uma política nacional sobre o clima Texto publicado na edição impressa da Columbia Journalism Review (spring 2020), disponível emwww.cjr.org

RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTY1