Revista de Jornalismo ESPM
44 JULHO | DEZEMBRO 2020 mas e causou uma centena de mor- tes – e a tormenta acabou rumando para o mar e perdendo força. A rota do Rita caiu em algo chamado cone de incerteza – que, de lá para cá, se estreitou devido ao avanço em tec- nologias de previsão. Omodelo do Centro Europeu de PrevisõesMeteorológicas deMédio Prazo, que tem o melhor histórico de acerto, ganhou peso em emisso- ras da costa leste dos Estados Uni- dos em2012, durantea supertempes- tade Sandy. Projeções de outras fon- tes mostravam um ciclone tropical no oceano, mas só o centro europeu, comousodeumdos supercomputa- doresmais possantes domundo, tra- çoucorretamenteodesvioàesquerda da tempestade, que tocou o solo em Nova Jersey. “Foi a primeira vez que o público em geral foi exposto ao fato de que o centro meteorológico europeu tinha um modelo melhor do que o americano”, lembra Eric Berger, ex-repórter de ciência do HoustonChronicle quehoje publica o blog Space City Weather. Cientis- tas do centro europeu fizeram, pos- teriormente, um experimento no qual omitiram distintas fontes de informação para ver que resultado omodeloproduziria. Quando retira- ram os dados do vapor de água, seu mapa, assim como todos os outros, errou, indicando que o Sandy per- maneceria no mar. A disputa de greenfield No dia 28 de fevereiro de 2019, Wil- burRoss, chefedoDepartamentode Comércio dos Estados Unidos (ao qual a NOAA é subordinada) e Jim Bridenstine, o dirigente da Nasa, enviaram uma carta a Pai, o diretor da Federal Communications Com- mission. Pai, 47, foi diretor jurídico da operadora Verizon e, desde que assumiu umcargo público, manteve abertamentea simpatiapelos colegas do setor de telefonia celular. Pouco depoisdetersidonomeadoporTrump para dirigir a FCC, em2017, ele lide- rou a revogação das normas sobre a neutralidade de rede no país – para muitos, a decisão mais controversa da FCC no atual século. Além disso, Pai defendeu, contudo, a acelerada campanhapara abrir oespectropara fins comerciais.Durantemeses, lide- rou a campanha da FCCpara levar a leilão a banda de 24 GHz. Faltando apenas duas semanas para o leilão, Ross e Bridenstine, dois conserva- dores indicados por Trump, pedi- ramquePai revisseadecisão.Oplano da FCC, escreveram os dois, “teria um impacto negativo considerável na transmissão de dados críticos do EarthScience –uminvestimentodo contribuinte americano que consu- mira décadas e bilhões de dólares”. Nos círculos normalmente circuns- pectosdagestãodoespectroderádio, foi o equivalente a acionar o alarme de incêndio. Oleilãododireitodeusodeespec- tro não começou com Pai ou com o governo Trump; distribuir ondas de rádio é uma das principais funções da FCC e, no passado, a agência já provou várias estratégias para abrir o espectro à iniciativa privada. Anti- gamente, a agência faziauma análise detidadecandidatosparadefinirqual eramaisdignodemérito, emumpro- cesso complicado e lento que gerava enormesgargalos.Nadécadade1980, a FCC adotou um sistema de loteria – o que fez com que faixas de alto valor fossem parar na mão de gente semcapacidade para usá-las. A lote- ria virou uma espécie de bolão, com o surgimentode “fábricasdepropos- tas” para orientar interessados sem qualificação; em uma ocasião, uma licença cobiçadíssima foi comprada por umgrupodedentistas e vendida na esteira à Southwestern Bell por US$ 41 milhões (US$ 91 milhões de hoje). A certa altura, a agência che- gouàmaismoderna e americanadas soluções: vender o espectro a quem fizesseomaior lance.Aideia forapro- postapelaprimeira vez em1959pelo Nobel de Economia Ronald Coase, que chegou a ser alvo de chacota ao dar a sugestãoemaudiêncianoCon- gresso. Em1993, no entanto, a priva- tização já fora incorporada ao DNA deWashington.AFCCadotouonovo A ideia do 5G é sedutora. Quanto maior a faixa do espectro, mais veloz é sua rede e mais usuários comporta. Mas seu uso poderia fazer a previsão do tempo retroceder algo em torno de 40 anos
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