Revista de Jornalismo ESPM
46 JULHO | DEZEMBRO 2020 demais agências tivessem “se recu- sado a reconhecer que o governo dos Estados Unidos agora temuma posi- çãototalmentecoordenadasobreesse crucial problema de espectro”, como escreveu Pai. AiniciativaSpectrumFrontiersda FCC, como ficou conhecida a cam- panha para vender o 5G à população americana, estavadentrodas funções da agência – que, no argumento de Pai, tinhaseguidotodasascomplexas normas que regemo processo de lei- lão, valendo-se de limites estabeleci- dos que já protegiamoutras faixas de interferência. “Aengenhariasugere, e anos de experiência confirmam, que esses limites de proteção nos permi- tem ter o melhor dos dois mundos”, escreveu. “Permitem que a banda de 24GHzsejaumcampodetestesame- ricano para a inovação no 5G.” A Casa Branca e o setor de tele- fonia celular estavam determinados a seguir em frente. “Quero tecnolo- gia 5G, e até 6G, nos Estados Uni- dos o mais rápido possível”, anun- ciou Trump em um tuíte. Se a FCC estava segura de que não havia qual- quer ameaçaao trabalhodemeteoro- logistas ou à pesquisa climática, essa segurançaera reforçada, semdúvida, por uma crençabásicadequeo setor de telefonia seria um bom guardião do espectro – de que as forças de mercado resolveriam, por si só, seus problemas. CientistascomoGerthficarampas- mos. “Aindaqueagentesoubesseque issoeraumaespéciedecaldeirãoque começava a borbulhar, muitos pro- blemas de espectro eram resolvidos internamente, dentro do governo”, disse. “Umano ou 18meses antes do leilão da faixa de 24 GHz, eu diria que a comunidade meteorológica estava preocupada, mas não estava dando muita atenção à coisa. Acha- vam, ‘muitobem, queaNOAA, aNasa e o governo vão resolver isso aí sozi- nhos’ –omundoacadêmiconãopre- cisa se envolver, o setor não precisa se envolver.” O céu não é o limite! Logo, porém, cientistas decidiram que teriam de intervir. Mais autori- dades meteorológicas começaram a opinar. AMarinha dos Estados Uni- dosconcordoucomestudosdaNOAA e da Nasa. Uma análise interna da Northrop Grumman, a companhia americana que fabrica os sensores de micro-ondas usados em satélites de órbita polar, descobriu que qual- quer emissãomaior doque -58dBW –umlimite consideravelmentemais rigorosodoqueopropostopelaFCC – teria “efeito adverso” sobre instru- mentosmeteorológicos. AAmerican Meteorological Society vinha estu- dando a interferência havia anos, e a Organização Mundial de Meteo- rologia, parte da ONU, soltara uma resolução manifestando “séria pre- ocupação com a ameaça contínua a várias faixasderadiofrequência”cru- ciais para a observação atmosférica. Nodia 8demarçode 2019, oCapi- talWeatherGangdo WashingtonPost publicouumareportagemsobreadis- cussão entreFCC, Departamentode Comércio e Nasa. O texto afirmava que “o que está em disputa aqui, basicamente, é definir qual a maior prioridade: a rede 5G para operado- ras de telefonia sem fio ou previsões de tempo confiáveis”. Omaterial cir- culoupor gabinetesdecongressistas. Funcionários do Comitê de Ciência, Espaço e Tecnologia e do Comitê de Dotações daCâmara dosDeputados americana se puseram a redigir car- tas para a FCC. No dia 13 de março, os dois comitês enviaram pedidos separados à agênciapara que o leilão da bandade 24GHz fosse adiado até que se chegasse a um acordo sobre a força do sinal. O Comitê de Ciên- cia sedisse “profundamentepreocu- pado” como fatode aFCCestar apa- rentementedesconsiderando“opini- ões e temores daNasa, daNOAA, do Departamento de Defesa, da Natio- nal Academy of Sciences e da comu- nidade internacional”. O Comitê de Dotações levantou o espectro do “impacto potencial sobre o investi- mento federal de bilhões de dólares em nossa frota de satélites, que tem “Quero tecnologia 5G, e até 6G, nos Estados Unidos omais rápido possível”, anunciou Donald Trump emum tuíte, ignorando as avaliações da Nasa e da NOAA sobre os efeitos desastrosos dessa nova onda
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