Revista de Jornalismo ESPM
REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 49 ser um pouco mais rígida: -39 dBW. Pouco depois da conferência, a FCC emitiu licenças para a faixa de 24GHz semcomputarosnovos limi- tes, que os Estados Unidos não ado- tarão oficialmente por mais de um ano. O CTIA, no entanto, manifes- tou apoio ao novo acordo. Os Esta- dos Unidos esperamque o 5G atraia bilhões de dólares amais emreceita. As concessões na banda de 24 GHz representam uma fração disso. “O Trump fala da corrida para o 5G, a FCC fala da corrida para o 5G; a questão aqui é econômica!”, disse Dano, o repórter da Light Reading. Os Estados Unidos não querem que o inventor de um Uber 5G vá para a China, onde empresas estão insta- lando redes mais velozes sem o peso daregulamentação.Porqueaí aChina seriaonovoValedoSilício.EoDepar- tamento de Estado americano tam- poucoqueroutranaçãodeterminando ofuturodeequipamentosdecomuni- cação.Empresasestrangeirasjáforam impedidas de erguer essa infraestru- tura nos Estados Unidos no passado, comajustificativadasegurançanacio- nal; no ano passado, a FCC rejeitou uma proposta de uma empresa cha- mada ChineseMobile US. Delegados da UIT acharam que estavam estabelecendo normas que não tolheriam a inovação nem pro- vocariam muita interferência em instrumentos meteorológicos, mas o acordo a que chegaram deixou a comunidade meteorológica em pol- vorosa. Eric Allaix, um meteorolo- gista francês que dirige um grupo de coordenação de radiofrequência na ONU, disse à Nature News que os limites estavam longe da rigidez exi- gida. A Organização Meteorológica Mundial ficou tão contrariada que seusmembrosincluíramumadeclara- çãodeoposiçãonasatasdareuniãono Egito,apontandoasramificaçõespara “nossacapacidadecomumdemonito- rar amudançaclimáticano futuro”.O Centro Europeu de Previsões Mete- orológicas de Médio Prazo também soltouumadeclaração,classificandoa decisãocomo“umagrandedecepção” eoutrotristeexemploda“ciênciaper- dendo para pressões da sociedade”. Por ora, nenhuma das vencedoras doleilãodaFCCcomeçouausarafre- quência. Em Washington, o assunto continua a gerar discussão emcomi- tês.ApósaconferênciadaUIT, a lide- rançabipartidáriadequatrocomissões do Senado escreveu à Casa Branca pedindo uma nova estratégia nacio- nal para o 5G; já os democratas no Senadocomeçaramaquestionarocro- nograma estabelecido por Pai, ques- tionando se era sensato fazer o leilão enquanto os limites de interferência ainda estavam sendo discutidos. Em uma audiência recente, a senadora Cantwell reclamou que a FCC tinha “abordado a questãoda piormaneira possível,simplesmentedescartandoa evidênciacientífica”.Aprópriaagên- cia não escapou da crescente polari- zaçãodoLegislativo.Emumaaudiên- ciarecente,JessicaRosenworcel,uma democrata que é membro da FCC – em geral, a comissão tem represen- tantes de ambos os partidos –, recla- mou do “constrangedor” impasse. A mim, ela disse: “É lamentável. Não é assimque se administra o espectro”. No fim de 2019, outra carta saía do gabinete do Comitê de Ciência daCâmaradosDeputados, dessa vez destinadaaoGovernmentAccounta- bility Office, o GAO. Eddie Bernice Johnson, a democrata que preside o comitê, eLucas, onúmero2 republi- cano, pediram à agência que exami- nasseos “preocupantes” argumentos contraditóriosdeFCC,NTIA,NOAA e Nasa. Era crucial, escreveram, que “as agências federais resolvessem essa questão de uma maneira inde- pendente, sem motivação política e combase na ciência”. OGAOacatou o pedido do comitê e espera iniciar em breve sua análise. O frustrante, disse Gerth quando conversamos, é que a comunidade meteorológica não quer ter fama de obstrutora. Quer, simplesmente, ser ouvida. “Queremos realmente agir com base na ciência e tentar evitar conflitos omáximo possível, emvez de ficar esperando que as teles esco- lhemumanova frequência”, disse. Se isso ocorrer, cientistas terão de vol- tar a semanifestar –e, “a certa altura, essa mensagem vai perder força”. Oque isso tudo significaparapro- fissionaisdameteorologia eobserva- doresdoclimadependedecomoatec- nologia 5G vai ser implementada no fim. Comoplaneta se aquecendo e o níveldosmaressubindo,nossacapaci- dade coletivadeobservar amudança climática e levar essa informação à população éumpoder fundamental. Qualquer atoquepudessediminuí-lo soaria, para dizer o mínimo, contra- producente.HeatherVaughan, dire- tora de comunicações da ala repu- blicana do Comitê de Ciência, disse que a questão da interferência abre uma oportunidade óbvia para a ação bipartidária. Proteger ameteorologia é, no fundo, proteger a vida e a pro- priedade, disse ela. “Émuitomais do que simplesmente saber como fica o tempo no fim de semana.” ■ mary cuddehe é jornalista formada pela Columbia Journalism School
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