Revista de Jornalismo ESPM

50 JULHO | DEZEMBRO 2020 quandoopresidentejairbolsonaro discursou na abertura da 75ª sessão daAssembleiadasNaçõesUnidas, no dia 22 de setembro deste ano, apre- sentou uma sequência de informa- ções falsas sobre o que de fato está acontecendonomeio ambiente bra- sileiro. Reconhecido internacional- mentecomoumnegacionista, Bolso- naro expôs o Brasil como a “vítima” deuma campanha “brutal” dedesin- formação sobre aAmazônia e oPan- tanal, enquanto estes dois biomas ardiam em chamas, ao vivo, pelas lentes da mídia mundial, emmeio a uma grande comoção internacional. Ao contrário dos números e dos fatos apontados pela imprensa brasi- leira, Bolsonaro não só negou a crise ambiental e a pandemia, como tam- bém acusou índios, caboclos e os povos tradicionais da Amazônia de serem os responsáveis pelos incên- dios, que têmderretido a imagemdo Brasil, o país com potencial para ser umaliderançaverde,agoravistocomo um dos que mais destroem suas flo- restas nomundo. “Nossa floresta é úmida e não per- miteapropagaçãodofogoemseuinte- rior. Os incêndios ocorrem sempre nosmesmos lugares, noentorno leste da floresta, onde o caboclo e o índio queimam o roçado para sua sobrevi- vência, em áreas já desmatadas”, fri- souopresidenteao longodoscatorze minutosdeumdiscursodescritocomo delirantepeloObservatóriodoClima. Nodia seguinte, umtimede repór- teres do site Ambiental Media, des- Novo jornalismo ambiental floresce na Amazônia Projetos colaborativos e independentes noticiam para o mundo as inúmeras pragas que pouco a pouco estão acabando com a Amazônia montavam o discurso presidencial, com dados e imagens, fazendo uma análisedetalhadasobre fogoedesma- tamentoemostrandoarelação intrín- seca entre esses dois fenômenos nos últimosdoisanos.Eraumtrabalhode fôlego, feito ao longo de seis meses, emque os jornalistas Letícia Klein e ThiagoMedaglia, o fotógrafo Flávio Forner e a especialista emvisualiza- ção de dados Laura Kurtzberg con- frontavam a conclusão superficial e precipitada de Bolsonaro. Nareportagem“CortinadeFumaça”, aequipedaAmbientalMediacomeça otextocomumasentençafulminante: “AAmazônianãodeveriapegarfogo”. Úmida, a floresta mais biodiversa do planetaéformadaporárvores,líquens emusgosesponjosos, umecossistema que, por meio da evapotranspiração, bombeiacentenasdelitrosdeáguapor diaparaaatmosfera, tão singular, que precisa de intervenção humana para incendiar, explicava a investigação. Segundoareportagem,essesdados nãosustentamanarrativadogoverno de culpar os povos tradicionais pelos incêndios na floresta. “Segundo o Ipam, em 2019, dos 31% de focos de calor registrados em imóveis rurais, 22% estavam naqueles considerados médiosougrandes,enquanto9%acon- teceramempequenos.Jánoprimeiro semestrede2020,osimóveisdemédio egrandeportes registraramsozinhos ametadedonúmerode focosdecalor na Amazônia”, revelava o texto. Projetadaemnovembrodoanopas- sado e realizada ao longo demeses, a pautadaAmbientalMediateveasorte deficarprontaemum timing perfeito, nodia seguintedodiscursodeBolso- naro, que tinha repercutido tão mal pelomundo.ComapoiodoblogAmbi- ência,dajornalistaAnaCarolinaAma- ral, e a manchete “Grandes fazendas por verónica goyzueta ENQUANTO ISSO NO BRASIL...

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