Revista de Jornalismo ESPM
REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 55 dãos”, doAmazôniaReal, foi umdos brasileiroseleitosnaúltimaConvoca- tóriaEspecial doAmazonRJF. Com telefones celulares nasmãos, jovens lideranças de comunidades tradi- cionais da Amazônia brasileira, de 15 a 24 anos – indígenas, quilombo- las e ribeirinhos –, vão documentar desde a sua perspectiva o cotidiano de suas comunidades e os impactos dapandemia, ao longode trêsmeses. Aseleçãotemcolocadonoaralguns projetosdejornalismodedadosdaInfo- Amazonia,comdoisrobôs,o@botquei- madas,queavisasobreofogonasterras indígenas nas últimas 24 horas e o@ amazonia_minada,desenvolvidopelo jornalistafreelancerHyuryPotter,que tratadospedidosdemineraçãodentro de unidades de conservação. O fundo também temviabilizado projetoscolaborativosdemeios inde- pendentes brasileiros com outros países amazônicos. Em setembro, a InfoAmazonia e o site venezuelano ArmandoInfo publicaram a série Mercurio, que foi transmitida no Fantástico , em uma parceria com a TVGlobo. Com fundos do RJF e do International Union for Conserva- tion of Nature National Committee of the Netherlands (IUCN NL), foi formada uma rede de jornalistas nos nove países daAmazônia, que viaja- rampelo submundo domercúrio na Guiana, Suriname, Venezuela e Bra- sil e revelaram uma indústria mul- timilionária que ameaça a floresta. Emtodosessescasos–dogrupode correspondentesnoBrasilquesejunta a jornalistasbrasileirospara criarum fundo internacional para promover grandes reportagens até os jornalis- tas que deixam as redações tradicio- naisparacriar seusprópriosveículos, se arriscando no complicado empre- endedorismo, passando pelos free- lancers que seenrolamemprocessos burocráticosdeseleçõesdebolsaspara fazersuasreportagens–,háumjorna- lista ambiental movido pela causa de uma Amazônia cada vez menor, que queima, se esvai e é sucateada. Neste cenário, não dá para não se engajarnemficarparadovendoopla- neta se acabar. O jornalista ambien- tal sai da posição de observador e de distanciamentoque aprofissão reco- menda em outras áreas de atuação, para se tornar umator, praticamente um ativista, onde, de um lado, estão o ambiente e a vida e, do outro, uma máquina de desmatar e dematar. E assim temos um comitê como o do RJF, formado por jornalistas notáveis que poderiam estar apenas fazendo grandes reportagens, mas passam horas discutindo projetos e buscando soluções e recursos finan- ceiros. Eassimtemos grandes repór- teres, como as fundadoras da Ama- zôniaReal, preenchendoplanilhas e relatórioscontábeis.Etemos também ótimos freelancerspreenchendo for- mulários e batendo nas portas atrás de uma carta de recomendação. Nunca houve um momento tão importante para fortalecer a cober- tura do meio ambiente na imprensa mundial. E talvez o Brasil seja um dos países onde isso sejamais neces- sário. Enquanto o país enfrenta um avançodeatividades ilícitas emáreas de mata e de preservação, as autori- dades e organizações responsáveis pelocontrolee fiscalizaçãosãoenfra- quecidas, desmontadas e sucateadas. A velocidade com que se avança sobre a floresta, as matas, o cerrado e o pantanal é muito maior do que a capacidadeda imprensa,mesmodos grandes veículos, de acompanhar coberturas que são difíceis, perigo- sas e extremamente caras. Diante da gravidadedadegradaçãoambien- tal, da iminênciadeumcolapsoedos impactos queessedesgastegerapara a nossa vida no planeta, não dámais para imaginaro jornalismoambiental comouma seçãodosmeiosdecomu- nicação, como uma especialidade jogada emumcantodoswebsites ou nas últimas páginas das publicações. No contexto trágico de uma emer- gênciaclimática,ojornalismocolabora- tivo,independente,emquejornalistas tomamporsuacontaeriscoainiciativa decriarseuspróprioscaminhosforada grandemídia,podeserumaesperança para vermos uma coberturamelhor e mais ampla da Amazônia, com mais transparênciaeproduçãolocal.Adifi- culdadedagrandemídiaemenxergar a necessidade de investir está criando umjornalismoambientalpujantepelo interiordoBrasil, emtodososestados amazônicos, onde repórteres se afas- tamdaimprensatradicionalparaassu- mirofazer,empreender,seengajarpela causa do planeta contra o tempo, que é inexorável. ■ verónica goyzueta é Amazon Coordinator do Rainforest Journalism Fund (RJF) e professora de Jornalismo Internacional da ESPM Diantedagravidadedadegradaçãoambiental, da iminênciadeumcolapso edos impactos que essedesgastegerapara anossa vidanoplaneta, não dámais para imaginar o jornalismoambiental comouma simples seção!
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