Revista de Jornalismo ESPM
58 JULHO | DEZEMBRO 2020 LIVRO Obra resgata as memórias de um grande fotógrafo brasileiro de guerra O BRASIL PODE SER CRUEL COM SEUS GÊNIOS, COMO O LEITOR JÁ ESTÁ CANSADO DE SABER. Mas certamente a pior maldade é o esquecimento, como o que faz o repórter fotográfico Luciano Carneiro (1926-1959) não ser reconhecido como o maior de nos- sos fotógrafos de guerra do século 20. Talvez porque ele não te- nha coberto a Segunda Guerra Mundial ou porque morreu cedo. E nem ouso dizer que seja porque ele era cearense, pois nem mesmo em sua terra ele é lembrado. Luciano Carneiro (lembre desse nome) foi o mais destaca- do correspondente internacional da revista Cruzeiro , de longe o mais poderoso veículo de mídia brasileiro daquele tempo, e tes- temunhou a Guerra da Coreia; o Japão recém-saído da Segun- da Guerra; Hiroxima ainda marcada pela bomba atômica; a Re- volução Cubana, entre outras histórias marcantes de seu tempo. Em LucianoCarneiro–FotojornalismoeReportagem(1942-1959) , o organizador Sergio Burgi cumpre a missão de resgatar a importân- cia de seu legado, em 256 páginas de um livro de grande formato. Editado pelo Instituto Moreira Salles em parceria com a Fun- dação Demócrito Rocha, do Ceará, o livro traz fotografias e, tam- bém, muitos facsímiles de páginas das publicações de época. Isso ajuda a entender tambémqual era o aproveitamento dado para as imagens que os repór- teres fotográficos produziam: o estilo editorial das grandes revistas fotográficas de então utilizava várias imagens para compor uma história em que o texto era umcoadjuvante (dife- rentemente de livros e revistas atuais que “rasgam”, ou publi- cam commuito espaço, menos imagens). Quando não estava acompanhado de um repórter de texto, como acontecia com frequência nas coberturas es- trangeiras, Carneiro cumpria também a missão de escrever as reportagens. E o fazia bem, como se vê nas reproduções de O Cruzeiro , na página ao lado. Na crônica do esquecimento do fotógrafo, que o livro narra, destaca-se o fato de que, mes- mo no Ceará, sua obra só havia sido exposta em 1960, em uma pequena homenagempóstuma, até que as duas entidades que agora editam o volume se uni- ram para uma grande exposi- ção em 2018, no centro cultu- ral de Fortaleza, Dragão doMar. Além de fotógrafo, Carnei- ro tinha formação de piloto de avião, o que talvez tenha aju- dado a ter sucesso em uma das mais marcantes peripécias de sua carreira: na Guerra da Co- reia (1950-1953), acompanhan- do forças norte-americanas e da Coreia do Sul, ele saltou de paraquedas sobre território do- minado pelas forças da Coreia do Norte e da China. Está tudo Tropasamericanas (1) ,comquemLucianoCarneiro (4) saltoudeparaquedasnaGuerradaCoreia,em1951;Soldados (2) erefugiados (3) emSeul FOTOS: DIVULGAÇÃO 43 2 LUCIANOCARNEIRO,S.D. 47 COREIADOSUL, MARÇODE1951 Imagens realizadasemSeul apósa retomadadacapital pelas tropasdaCoreiadoSul. Refugiados retornamàcidade destruídapelosbombardeios. 51 REFUGIADOSESOLDADOS NORTEAMERICANOS, SEUL,COREIADOSUL, MARÇODE1951 PARA LER E PARA VER LEÃO SERVA
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