Revista de Jornalismo ESPM
REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 61 da a nossa história. Cabral, por exemplo, já chegou aqui com umquadro deN. Sra. da Boa Es- perança debaixo do braço – ou- tro nome da santa da Boa Via- gem, sema qual nenhumnave- gador se aventurava nosmares. ESPM – Você fala de 21 Marias, que são uma só. Como é isso? Bel – Maria é uma, claro, mãe deJesus,mastemmuitosnomes ou devoções – algumas relacio- nadas a ummomento de sua vi- da (caso de N. Sra. do Desterro, que se refere à fuga da família para o Egito e torna-se proteto- ra dos imigrantes, refugiados e todos que largarama sua terra), outras surgiramno sonhoouem forma de aparição para algum devoto ou não (caso de Guada- lupe, no México, que apareceu para um índio). Ela pode ser in- vocada para resolver crises pes- soais ouparaobter vitórianuma guerra. Surge na forma mater- na, meiga, dedicada e proteto- ra, ou firme, vigorosa, guerrei- ra. O que elas têm em comum é o amor pelo ser humano. ■ SHUTTERSTOCK ESPM – Por que traduzir os Evangelhos hoje? Marcelo M. Cavallari – Os Evangelhos são o mais impor- tante fundamento da civiliza- ção ocidental. É a partir deles que se juntaram as formas de ver omundo dos judeus, que le- garam o Antigo Testamento, e dos gregos, que criaram a filo- sofia, opensamento racional so- bre o mundo. Qual a relevância dos dias de hoje para o mundo queos Evangelhos fundaramse- ria, na verdade, a questão mais importante que só pode ser res- pondida coma leitura dos Evan- gelhos. Se quiser continuar a fa- zer parte da civilização, o mun- do moderno tem que continuar ligado aos textos que o funda- ram. Os grandes livros, aqueles poucosemqueumestadoeleva- dodahumanidadeaindaépossí- vel, para citar uma frasedeNiet- zsche, sempre devemser tradu- zidos. Eles só estão completos no original. Cada geração deve- ria ter sua tradução da Ilíada , de Cícero, de Dante, de Shakespe- are, de Dostoiévski. E, acima de tudo, da Bíblia . Cadanovo tradu- tor traz aquilo que consegue ver e, sendo ele contemporâneo de seu mundo, talvez tenha visto algo relevante e o saiba expres- sar às pessoas de seu tempo. ESPM– Seu livro é para levar à igreja ou para a fruição? Cavallari – É para a fruição. A minha tradução é uma das pos- sibilidades de leitura em portu- guês do texto original que con- ta a história de Jesus Cristo. A tradução não traz nem mesmo os números de capítulos e ver- sículos para facilitar e convidar a uma leitura contínua do texto. ESPM – O que sua tradução acrescentanaexperiênciadolei- toremrelaçãoàs Bíblias oficiais? Cavallari – O grego do Evange- lho é uma língua que ninguém nunca falou. Ela só existe no Novo Testamento. Normalmen- te as traduções contemporâne- as procuram produzir um texto claro, fluido, embomportuguês do ponto de vista gramatical. O original não é assim. É um texto abrupto, ríspido, cheio de ares- tas e extremamente expressivo. Procurei dar ao leitor apossibili- dade dessa experiência que in- clui até passagens cujo signifi- cado não é possível ter certeza. ESPM – Você é católico? Isso é uma raridade entre jornalistas? Cavallari – Sou. Ao longo de 30 anos na profissão não encon- trei muitos colegas que fossem àmissatododomingo.Mastam- bémencontrei poucos que, nas- cidoscatólicos,nãotivessemba- tizadoosfilhosouquenãoenco- mendassemmissadesétimodia para um ente querido morto. ■ Os Evangelhos – uma tradução – Marcelo Musa Cavallari, Editoras Ateliê/ Mnema, 2020, 512 páginas 21 Nossas Senhoras que inspiram o Brasil – Bell Kranz, Editora Planeta, 2020, 264 páginas Os fundamentos do nosso mundo ENTREVISTA DIVULGAÇÃO DIVULGAÇÃO
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