Revista de Jornalismo ESPM

REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 5 lares. É terrível dizer isso para as novas ge- rações, mas é necessário para tentar provo- car alguma mudança. Meu filho tem 9 anos e já sabe disso. Acontece que poucos falam a respeito por conta do antropocentrismo, que é uma doença pior do que câncer e se perpetua de geração em geração. Revista de Jornalismo ESPM – Meu pai é físico nuclear e, desde criança, eu escu- to ele dizer que o ser humano é a espécie que não deu certo! Krenak – É isso mesmo. Nós acreditamos que o ser humano é a coisa mais interes- sante que existe no cosmos, mais que os di- nossauros, os elefantes, as estrelas e o uni- verso. Somos incríveis. Emesmo diante das várias experiências e evidências de extin- ção que já aconteceram com nossos ante- passados, não aprendemos nada! Revista de Jornalismo ESPM – É o que você alerta quando afirma no título do seu novo livro que a vida não é útil? Krenak – Sim. Meu editor achou o título do meu livromuito pesado. E eu respondi: pe- sado é o que fazemos coma vida! Omerca- do está nervoso. A bolsa vai explodir. Tem- po é dinheiro! É isso que escutamos no no- ticiário logo nas primeiras horas do dia. Vi- vemos em uma espécie de cassino global do capitalismo, que alimenta umsistema fi- nanceiro sem fronteiras. Existe sempre um risco dramático no caminho, principalmen- te para 70%da população concentrada nos grandes centros urbanos. Muitos estão so- frendo por viver essa crise isolados dentro de umapartamento. Mas, ainda assim, não conseguem enxergar que a vida não é um artefato. Não é uma medida ou uma lâm- pada que você coloca para iluminar a sa- la e sabe que está programada para du- rar 300 dias. A vida é um dom, um estado de espírito que precisa ser vivido intensa- mente a cada instante. O problema é que a maioria das pessoas que nasceram depois da Revolução Industrial acredita ser dona de sua própria vida. Mas o fato é que não contemos a vida. É a vida que nos contém. Neste sentido, A vida não é útil é um convi- te a se desapegar de toda essa paraferná- lia que aprendemos a chamar de civiliza- ção. Dentro desse pacote, a vida passa a ser contingenciada em uma contabilidade perversa: se você tementre 20 e 30 anos, é valorizado pelomercado, pois seu trabalho rendemuitos frutos. Já umhomemcom70 anos costuma ser descartado pelo merca- do, pois já está chegando na casa do “vale nada”. O desrespeito da sociedade moder- na com a vida é grotesco e mostra como a vida é banalizada. Estamos adoecendo pe-

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