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ENTREVISTA | RODRIGO BANDEIRA SANTOS REVISTA DA ESPM | JULHO/AGOSTO/SETEMBRODE 2020 10 Revista da ESPM — Desde o início da pandemia, a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm) anali- sou mais de 50 milhões de pedidos feitos em quatro mil lojas virtuais entre março e junho de 2020. Com base neste resul- tado, qual foi o impacto do Covid-19 sobre o e-commerce brasileiro? Rodrigo Bandeira Santos —Durante a fase mais aguda da quarentena, nota- mos dois grandes impactos. O primei- ro foi o fato de o e-commerce ter sido testado por mais de ummilhão de bra- sileiros, que realizaram sua primeira compra virtual logo nos primeiros me- ses do ano. Nossos estudos apontam ainda que mais de quatro milhões de pessoas utilizaram algum tipo de apli- cativo delivery pela primeira vez no primeiro semestredo ano. Eo segundo ponto foi a total transformação do va- rejo, que— comas portas fechadas — foi obrigado a migrar para a internet para continuar vendendo. Aqui, vale ressal- tar a pronta resposta do e-commerce brasileiro, que desde março vive uma Black Friday por dia, com o aumento exponencial e contínuo da demanda. Poderia ter sidoumcaos, porque, como sabemos, os estoques sãofinitos. Feliz- mente, houve uma pronta resposta do varejo on-line e quemainda não estava no e-commerce correu para montar sua operação na internet. Desde o iní- cio da pandemia mais de 135 mil lojas aderiramaocomércioeletrônico. E, as- sim, o abastecimento foi mantido e as entregas realizadas, o que permitiu às pessoas permanecerememsuas casas no período do isolamento social. No DiadasMães, por exemplo, ocomércio eletrônico faturou R$ 3,3 bilhões, com 9,81 milhões de pedidos feitos entre os dias 15 de abril e 11 de maio —mon- tante 16% superior ao movimentado na mesma data do ano passado. Já no período que antecedeu o Dia dos Pais, o setor registrou 8,63 milhões de pe- didos, que movimentaram R$ 2,55 bilhõesde20de julhoa10deagosto—o que representou um aumento de 14% emrelação a igual períodode 2019. Revista da ESPM — O que a quarente- na representa em números para o setor? Santos — A quarentena elevou o fatu- ramento do varejo digital em 58% de janeiro a agosto deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado. E, embora o tíquete médio tenha sido reduzido deR$ 420,78 paraR$ 398,03, o número de transações efetuadas cresceu 65,7%, saltando de 63,4 bi- lhões para 105,6 bilhões no período. Os itens mais demandados estão na categoria de beleza e perfumaria, que registrou um aumento de 107,4%, atingindo um faturamento de R$ 2,11 bilhões de janeiro a agosto de 2020. Na sequência, vieram os móveis, com 94,4% de crescimento e faturamento de R$ 2,51 bilhões no período, e os eletroportáteis, que alcançaram um aumento de 85,7% e faturamento de R$ 1,02 bilhão. Todo esse movimento nos fez rever a projeção de crescimen- to do e-commerce brasileiro de 18% para 30% no acumulado de 2020. Revista da ESPM — O bom desempe- nho do e-commerce evitou uma queda ainda maior nos números do varejo, durante o período de quarentena. Hoje, qual é a participação das vendas on-li- ne dentro do total movimentado pelo varejo nacional? Santos — O e-commerce, que repre- sentava 8% do varejo nacional, atingiu uma participação de 16% durante a quarentena. Mas não temos o que comemorar, porque vivemos uma situação terrível no Brasil, que há anos busca uma certa estabilidade econômica, dentro desse maremoto constante que é o governo. O fato é que sememprego, semdinheiro e sem saúde não há consumo. O mercado nacional poderia estar vivendo outra realidade, se pudesse contar com uma melhor infraestrutura, a começar pela qualidade da conexão à internet, que no Brasil é uma piada! O smartphone já é uma realidade no país, o que falta é uma boa conexão. Ousuário não tem capacidade de navegação plena. E isso freia não só o e-commerce, mas tam- bémo desenvolvimento de todo o país. É preciso explorar muito a educação digital como meio para fazer as pes- soas se conscientizarem do seu papel de cidadãos e assim passar a exigir a mudança dessa realidade. Revista da ESPM — De acordo com a ABComm, entre os meses de março e junho, a categoria de supermercados registrou um aumento de 457% nas vendas on-line. Já o segmento de artigos Todo esse movimento gerado no período de quarentena elevou a projeção de crescimento do e-commerce brasileiro de 18% para 30% no acumulado de 2020

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