Revista da ESPM JUL_AGO_SET 2020 web
ENTREVISTA | RODRIGO BANDEIRA SANTOS REVISTA DA ESPM | JULHO/AGOSTO/SETEMBRODE 2020 12 monia se mantém. Mas se somente lobos restarem, ou eles se comem ou morremde fome. Revista da ESPM — Antes da pande- mia, nosso e-commerce representava cerca de 8% das vendas a varejo no Brasil, enquanto já havia chegado a 12% nos Estados Unidos. Olhando para o futuro próximo, você acredita que ire- mos pelo menos reduzir essa diferença? Santos — Há importantes diferenças culturais, tecnológicas e comporta- mentais que precisam ser considera- das nesta projeção. Por exemplo: os americanos já comprampor QRCode, enquanto nós ainda estamos na veri- ficação por dígitos. Lá, eles utilizam um motorista apenas para entregar os produtos, que costumamser deixa- dos na varanda das residências. Aqui, precisamos de duas pessoas —ummo- torista e um ajudante —, o que eleva consideravelmente o custo da logísti- ca e tambémo tempo de entrega. Mas podemos minimizar essa distância, desde que não apareçam políticas públicas que interrompamou prejudi- quemo crescimento do setor. Revista da ESPM — Nesta pan- demia, muitas empresas souberam aproveitar o momento, como a Giu- liana Flores Online, que registrou um crescimento de 200% em vendas no mês de maio e de 110% em junho, em relação aos mesmos meses de 2019. Que outros cases você destacaria? Santos — O Magazine Luiza, por exemplo, emplacou a questão dos vendedores representantes (com o projeto Magazine Você, um e-com- merce social que permite a pequenos empreendedores divulgarem sua loja e seus produtos no marketplace Ma- galu), levando o canal porta a porta para o meio digital. Este é apenas um dos cases que geram oportunidade de emprego para muitas pessoas. Outro exemplo é o empreendimento Era uma vez o mundo . A loja física, que vendia bonecas negras produ- zidas em uma comunidade carente do Rio de Janeiro, pensou em fechar as portas no início da pandemia. Em vez disso, migraram para a internet e passaram a vender muito mais, principalmente por conta das ques- tões raciais que nos alertam para os problemas que vivemos no dia a dia. A pandemia veio para igualar a todos: independentemente de ter mais ou menos dinheiro, instrução ou inteli- gência, todos agora usam máscara e estão dentro do mesmo “contêiner”. A percepção de mundo foi alterada e alavancou inúmeras ações sociais pela internet. Aprópria ABCommem- barcou na Missão Covid e abriu suas redes para divulgar essa plataforma que reúne 1,2 mil médicos voluntá- rios para atender pacientes e pessoas com sintomas de Covid-19. Em para- lelo, desenvolvemos um projeto de e-commerce para vender produtos indígenas pelo Brasil e aproveitamos para promover uma Missão Covid nas tribos indígenas da região Norte. E é assim que a internet vai sendo cada vez mais utilizada para conectar pessoas e iniciativas sociais. Quem não entendeu até agora que é igual a qualquer um neste mundo não vai entender nuncamais! Revista da ESPM — De que forma esse novo comportamento do con- sumidor brasileiro tem estimulado a prática do omnichannel no varejo como um todo? Santos — As grandes empresas já estão trabalhando fortemente na implantação desse conceito, por meio da adoção de sistemas que integram o comércio físico com os meios digi- tais. Para o omnichannel acontecer, a primeira coisa que tem de ter é tecnologia que se conecte, ou seja, as empresas que atendem o varejo pre- cisam conversar com as plataformas digitais. Esse ainda é um movimento lento, que demanda muito investi- mento. Mas o empresário já entendeu que o omnichannel é o caminho para otimizar suas vendas, diminuir a ne- cessidade de grandes liquidações de peças, atender o cliente em diversos canais e promover novas experiên- cias de compra. Nesse movimento, ainda não é possível distinguir o que é onda, o que é surfista. Sim, o om- nichannel atende à necessidade de comodismo e imediatismo das ven- das, mas precisa existir tecnologia para os canais conversarem entre si e assim evitar problemas tributários, de atendimento ou de fluxos que não se completam... É preciso lembrar que O e-commerce, que representava 8% do varejo nacional antes da pandemia, atingiu uma participação de 16% logo durante os primeiros meses da quarentena
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTY1