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TENDÊNCIAS REVISTA DA ESPM | JULHO/AGOSTO/SETEMBRODE 2020 16 Tendências são como vírus, que estão por aí, infinitos, invisíveis e prontos para, a partir de ummomento qualquer, se transformar em febre, onda, moda, mania, costume, praga, pandemia Depois, há a questão do contexto. Um vírus como este quenos acomete atualmente sócumpre seumisterde con- tágio se houver condições contextuais favoráveis a isso: organismoshospedeirosvulneráveis,aindasemanticorpos ou outrosmecanismos de defesa; pessoas comcomporta- mentos que propiciema contaminação,poucohabituadas a lavar constantemente asmãos emuito acostumadas aos ambientes fechadose lotados; desconhecimentocientífico e incapacidade sanitária, ausência de remédio ou vacina, escassez de estrutura e instrumentos de tratamento. Ten- dências seguemomesmoprincípio: precisamdeumcená- rio favorável à suadifusão.Questões econômicas,comoos momentos de criseoudeprosperidade; aspectos políticos, como os períodos de maior estabilidade ou de incertezas e crispações; e fatores demográficos, como o envelheci- mento da população,são exemplos do que pode favorecer a disseminaçãode uma tendência.Ou seja: pode-se enten- der e prever o impacto de uma tendência ou de um vírus emdeterminada sociedade tambémapartirdas condições dessa própria população. E, por fim, os efeitos. Se a importância que adquire a doença provocada por um vírus pode ser compreendida a partir dos impactos que causa nas pessoas — sintomas, sequelas, limitações, perdas, sofrimentos,morte —, a rele- vânciadeuma tendência está tambémnoque ela significa. Quanto mais ela for capaz de expressar sinteticamente os valores por que se anseia, maiores serão seu alcance e a velocidade da sua difusão. A série que todomundo vê, o artista que todomundo segue, a roupa que todomundo usa, tudo isso tempor trás a capacidade de expressar, na esfera do comportamento e do consumo, os sentidos que queremos para as nossas vidas. Tudo isso para dizer que o desafio de identificar ten- dências de comportamento, de consumo e de mercado a partir da pandemia da Covid-19 não deixa de ser tam- bém um grande exercício de reflexão sobre o próprio fazer investigativo das tendências. Exercício necessá- rio, entretanto, porque favorece a profundidade do pen- samento, a própria qualidade do que se está elaborando e, consequentemente, a responsabilidade com o que se venha a alcançar como resultado. Sobretudo em tempos emque já não se sabe qual é amais acelerada e disputada das corridas: se aquela pela vacina contra a doença ou se esta pela identificação das tendências pós-pandemia. Menos de dois meses depois do início da doença já cir- culavampela internet textos e relatórios prevendo como seria o futuro: novos valores,novos hábitos,novas formas de vida, novas necessidades — e até um absurdo concei- tual, chamado de “novo normal”. De pensadores respei- táveis,que se propuserama refletirfilosoficamente sobre os impactos da pandemia nas sociedades, a empresas de pesquisa, determinadas a prever, sabe-se lá com quais métodos, como viria a ser o futuro domercado, viu-se de tudo. Semperder de vista que toda pesquisa de tendência guarda dentro de si uma boa dose de intuição e aposta, muito do que se tem falado sobre o futuro do consumo pós-covid não passa de adivinhação, chute que valemais pelo próprio chute — curtidas nas redes sociais, compar- tilhamentos emâmbito executivo — do que pelo eventual acerto — contribuição no entendimento do que vão ser o shutterstock . com Quanto mais automaticamente for replicável dado comportamento, maior será a capacidade de se espalhar da tendência manifestada

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