Revista da ESPM JUL_AGO_SET 2020 web

JULHO/AGOSTO/SETEMBRODE 2020| REVISTADAESPM 17 O que vai determinar os novos padrões de consumo são as situações que estamos vivendo neste momento atual, sobretudo dentro de casa pensamento e o comportamento das pessoas, dos consu- midores, daqui para frente. Nós, que estudamos as tendências — seja para contri- buir comas demandas domercado, sempre precisando se antecipar; seja na função de professor, trazendo as contri- buições da área para o universo da comunicação, da publi- cidade e domarketing —, sabemos que a chave para enten- dero futuroéolharparaopresente.Estãoocultos—masnão invisíveis — no cotidiano das pessoas os sinais do que será o futuro. De modo que o caminho mais efetivo para supor acertadamentequais serãoas tendências depois destapan- demia édepositarsobreo real quenos circundaolharsensí- vel, atento, interessado e calmo, comprometido não coma comprovaçãodas ideiaspreviamente concebidas,mas sim- plesmente com o reconhecimento dos novos valores que se elaboram. E o que se consegue enxergar, a partir desse esforço de observação e interpretação, é que os impactos do coronavírus no comportamento e na visão de mundo das pessoas se darão emtrês grandes dimensões — espaço, tempo e relacionamento —, todas elas interligadas entre si e com impactos diretos no consumo. #ficaemcasa Primeiro, háaquestãodoespaço. Pormenosqueoconfina- mento, o isolamento social e a possibilidade do lockdown tenham prevalecido por aqui, no que se convencionou chamar de quarentena, há em curso uma importante transformação simbólica no que se refere às espacialida- des. O conceito “ficar em casa” passou a significar guar- dar a vida, proteger-se; restando ao “ir à rua” o sentido de arriscar-se, oferecer-se à morte. Só que essa polarização simbólica estática nunca fez pleno sentidonoBrasil, uma sociedade reconhecidamente dinâmica e relacional. Por aqui, não há casa semrua (RobertoDaMatta que o diga: “o pontocríticoda identidadesocial noBrasil é, semdúvida, o isolamento”; “ansiedades acumuladasnumespaçopodem ser aliviadas noutro”), de modo que vida e morte e casa e rua misturam-se simbolicamente nesse conflito vivido por todos, emmaior ou menor medida. E daí que as pes- soas venhamexperimentando uma espécie de urbaniza- ção doméstica, destacando o aspecto de rua naquilo que até há bempouco tempo era predominantemente casa. Dos escritórios ebibliotecas fotogênicosdos jornalistas e intelectuaismidiatizadospela televisão,ouaindapelospro- gramas de chamada de vídeo ao cantinho improvisado na mesa de jantar onde se pousamo computador e os demais objetos de trabalho,muita gente passou a enxergar na sua casa o que via somente no escritório,na empresa,nafirma, no serviço. Da mesma forma que a bicicleta ergométrica alugada e postada no meio da sala não se distancia tanto assimdas sessões de dança e ginástica armadas emquin- tais, lajes e varandas. A experiência de, por umperíodo de meses, não haver mais divisões físicas entre esses espa- ços faz reforçar as divisões simbólicas entre eles, gerando como efeito inevitáveis revisões. Têm sido recorrentes os discursos que afirmam que a casa, com a pandemia, vai assumir novos sentidos e que isso trará impactos diretos no consumo. Bem, isso é evidente. Ricos e pobres, pessoas em condições mais ou menos favoráveis ao confinamento, todomundo de uma formaoude outrapassouaficarmais tempodentrode casa — nemque por força da perda do próprio emprego. Bens e serviços voltados ao conforto (estético, físico, emocional e psíquico), ao entretenimento doméstico e ao aprimo- ramento profissional tiveram sua busca potencializada

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