Revista da ESPM JUL_AGO_SET 2020 web

JULHO/AGOSTO/SETEMBRODE 2020| REVISTADAESPM 19 Bens e serviços voltados ao conforto (estético, físico, emocional e psíquico), entretenimento doméstico e aprimoramento profissional tiveram sua busca potencializada durante a quarentena em casa um aperol spritz , um risoto ao limone ou uma pipocade caramelo constatouconcretamentequeopreço cobrado por bares, restaurantes e salas de cinema pode ser bem elevado, se comparado ao custo de seus ingre- dientes. O quanto isso vai afetar a percepção do consu- midor na hora em que ele voltar aos estabelecimentos e se deparar novamente com a conta? Tempo livre Voltando à dimensão temporal: impossível não se ques- tionar tambémsobre o que fazer comaquele tempo que se “perdia” nos deslocamentos diários. Dormir ou tra- balhar mais? Cuidar da casa e da família ou aprender uma língua ou um novo hobby? Tudo leva a crer que haverá, por parte das pessoas, um sentido de qualifi- cação na compreensão do que é o trabalho. Ao menos para os que trabalhamemescritórios —mas certamente com impacto em outros tipos de atividade —, a ideia de um dia inteiro de expediente dentro da empresa, se já estava combalida, pode ser dada como morta. Daí que o grande desafio a partir de agora é encontrar a justa adequação entre qualidade, eficiência e produtividade. Já não se tratamais de trabalhar uma certa quantidade de horas: trata-se de conseguir dar conta das tarefas, semperda da qualidade das entregas, nomenor tempo possível. Afinal, o tempo que sobra pode ser usado para outras coisas. Cada vezmais o trabalho será valorizado pelo tempo que deixa livre. O sentido não mais estará na flexibilidade propriamente, e sim no que se pode fazer além do trabalho. Empresas que quiserem con- tratar os jovens das novas gerações terão de se aten- tar a isso. Catalisados pela pandemia, os profissionais desse futuro breve vão buscar funções e posições que tenhamsentido emsi, mas que, aomesmo tempo, apre- sentem jornadas de trabalho sem sentido e com exte- nuante senso competitivo de produtividade, que não inviabilizemos seus projetos pessoais e o desempenho de atividades ligadas aos seus gostos cotidianos. Tudo isso, emmuitos casos, dentro de casa. A experiência de “estar dentro de casa” e, quase sem- pre por meio da tecnologia, conseguir fazer “tudo” vai transformar a nossa forma de enxergar a realidade. Da mesma forma que os videogames ensinaramàs crianças dos anos de 1970, 1980 e 1990 que, sozinhas, de dentro dos seus quartos, diante de uma tela e apertando botões, elas conseguiamresolverqualquerproblema (lutar,matar, vencer, salvar, encontrar, viajar), o aparato tecnológico que durante a pandemia se fez evidentemente necessá- rio — quando não simplesmente indispensável — vai fazer comque daqui para frente todos nós repensemos as nos- sas ações e relações. Alguma coisa aconteceuquando IveteSangalo,tardeda noite,abriu a câmera do seu celular,na intimidade do seu quarto, transmitindo aos muitos seguidores do seu perfil no Instagram algo que não era show, mas que, aos olhos dopúblico,nãodeixavade serespetacular.Algoaconteceu tambémquandoprofessoresealunosviram-setodosenqua- drados, “enjanelados” e igualados nos aplicativos usados para o ensino remoto, semos artifícios diferenciadores e distanciadoresdas salasde aula.Ouquandochefes,direto- resepresidentes,semoanteparodas salasde reuniãoedas secretárias, dirigiram-se aos seus funcionários tendo por cenário a sua própria casa,enxergando também,do outro shutterstock . com

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