Revista da ESPM JUL_AGO_SET 2020 web

JULHO/AGOSTO/SETEMBRODE 2020| REVISTADAESPM 25 Condições de falta criam espaços de constituição subjetiva importantes, como desejos e motivações, aprendizagem de resistência a frustrações e capacidade de resiliência ante dificuldades shutterstock . com a necessidade demovimento e atividade física: tudo isso cria umnovo vetor a empurrar as pessoas para o retorno à rua e ao convívio, ainda que comcertas precauções. E some-sea issoo fatodequeasnotíciasdiárias, pormeses, apontando o número de mortes acabam por gerar uma insensibilidade e indiferença ante a tragédia emcurso. Emterceiro lugar, e possivelmente omais importante, aparece a falta de referência segura externa. Avida cole- tiva émediada por instâncias simbólicas, comfiguras de autoridade e referência que intermedeiamnossas rela- ções. Assistimos, desde o início deste período, à contra- dição e disputa entre referências do governo federal e os estaduais, partes damídia e ainda as orientações da OrganizacãoMundial da Saúde (OMS). Enquanto quase todo o mundo afirmava a necessidade do isolamento social, instâncias centrais de poder no Brasil insistiam e insistem que nada deve ser feito, porque a pandemia seguirá seu curso natural de toda forma. Isso abrange até a falta de planejamento para a aplicaçãomassiva das vacinas, quando elas chegarem. Nada pode ser pior para a coesão social do que esta cisão de referências. As vozes de liderança desautorizaram umas às outras. A falta de uma liderança segura é desastrosa para o vínculo social . Cada indivíduo se vê desamparado, semsaber emquem ou em que confiar. A reação então é óbvia: cada um por si! Cada pessoa passa a buscar individualmente seus critérios e medidas de segurança para si e os seus pró- ximos, desordenadamente. O resultado disso é o que estamos vivenciando agora. Aberta a flexibilização, cada um opera à sua maneira. Alguns voltarama viver como se nada estivesse aconte- cendo;algunsflexibilizamemmedidasvariáveis,tomando cuidados variados; outros semantêmrigorosamente em quarentena. Ouvi de algumas pessoas ainda em isola- mento que estão se sentindo “otárias”, por manterem uma atitude de cuidado de si e dos outros, enquanto, por suas janelas, veem tantas pessoas andando semsequer usar máscara. Essa é outra questão importante, à qual só poderemos responder no futuro: resultará desta crise um convívio social mais solidário e coletivo, ou prevalecerá o extremo individualismo? Efeitos colaterais Outra dimensão significativa do período de isolamento foi a condição de interrupção no fluxo da vida anterior. Para aqueles que mantiveram sua condição financeira

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