Revista da ESPM JUL_AGO_SET 2020 web

SOCIEDADE REVISTA DA ESPM | JULHO/AGOSTO/SETEMBRODE 2020 28 seja puramente boa oumá, certa ou errada. Assimacon- tece tambémcomamigração de partes consideráveis de nossa vida para o ambiente conectado. Como bemobser- vou o amigo e professor da ESPM JoãoMatta emuma de nossas reuniões virtuais: “Não houve isolamento social, mas sim isolamento físico”. Temos tidomuitos contatos sociais e profissionais, sembarreiras geográficas, aliás. É importante observar inclusive que a intensidade dos encontros virtuais parece ser aindamaior, emalgu- mas dimensões. Uma aula de cemminutos parecemuito mais longa, assimcomo reuniões de uma ou duas horas. Temos nos cansado muito neste mergulho: não só can- samos nossos olhos, mas tambémentramos numnível de presença intensa e constante. Onível de demanda da vida conectada atingiu o ponto da invasão e exaustão. Aprendemos que podemos realizar grande parte de nossos trabalhos on-line; trabalhos burocráticos, aulas que sequer foram preparadas num modelo de EAD; e mesmo o trabalho psicoterapêutico. Como já foi dito acima, imagine se a pandemia tivesse acontecido há poucos anos: semos recursos atuais, o isolamento teria tido outra dimensão. Muito se fala da incorporação desses modos que desenvolvemos, definitivamente. Talvez, boa parte dos escritórios tenha perdido sua função; muitas aulas ou atendimentos permanecerão on-line ou em modelos híbridos. Aqui tambémpercebe-se que não voltaremos a viver como antes. A vida conectada que já vinha se desenvolvendo com rapidez deu um salto gigantesco. Tecnologia de informação e ciências humanas des- pontam como áreas de grande demanda no futuro. Isto realmente soa comoumcampo fértil para a criati- vidade e a inovação,mas possui umadimensãoambígua. É evidente que inúmeros negócios e profissões se torna- rão obsoletos, por exemplo. Isto gera ummedo justificá- vel do desemprego. Este medo foi muito perceptível no uso abusivo dos grupos emmídias sociais no início da quarentena. Umavezqueos encontrospresenciais foram interrompidos, tornou-seevidenteanecessidadeque tan- tas pessoas tiveramde semostrar presentes, relevantes, interessadas. Muitos pretenderammanter ou aumentar seudesempenho, paramostrar seu valor. Foi importante mantermo-nosativos,masseriaalucinadopretenderman- ter omesmodesempenhoemmeioaumaexperiência tão extrema.Osgrupos foramsobrecarregadosdemensagens numnível saturante e improdutivo. Mas era preciso pro- var a própria relevância ou, simplesmente, existência! E se os escritórios se tornarem obsoletos? E se for necessário menos professores? E se as pessoas dimi- nuírem suas idas aos restaurantes? Estamos passando aceleradamente por um salto no funcionamento das relações humanas (incluídas, é claro, as relações de trabalho e consumo), em diversas dimensões. A cadamudança de fase na vida, os elementos da fase anterior precisam ser traduzidos para a atual. Quando um elemento de uma fase encontra lugar na seguinte, ele se adapta, se transforma e sobrevive. Quando algo não consegue um lugar na nova fase, fica barrado e desa- parece, ao menos até que consiga, em outra passagem de fase, ressignificar-se. Cada negócio, atividade e vínculo profissional ou pes- soal está passando agora por um processo assim. Parte do modo de vida anterior sobreviverá, transformado; parte ficará para trás, perdido. As próprias instituições de ensino seperguntamcomonão se tornaremobsoletas numambiente que faculta acesso à informação semsua intermediação. Quemse dá conta destemomento, teme perecer.Umagrandeansiedadenascedisso,naturalmente. Outra dimensão da ambivalência com relação ao progresso na conectividade está no quanto passamos a Nunca conversamos tanto com os companheiros e familiares como neste período. E esta experiência foi ao mesmo tempo maravilhosa e exaustiva shutterstock . com

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