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MUNDO DIGITAL REVISTA DA ESPM | JULHO/AGOSTO/SETEMBRODE 2020 46 as relações entre os agentes de seu ecossistema ainda não estão bemdefinidas e a opinião pública ainda está sendo formada. Por ora, é difícil dizer quem está certo ou errado nessa discussão. Mas uma coisa é certa: essa é a prioridade das plataformas. Se não é, precisa ser. Não adianta ter projetos incríveis na gaveta e um time talentosona execução se a sociedade rejeita a suamarca e considera sua conduta egoísta e prejudicial ao ecossis- tema. A seguir, aponto algumas das questões de com- portamento empresarial que considero cruciais para continuar prosperando neste setor. O futuro do delivery on-line A mudança para um capitalismo mais consciente e o controle de ansiedade do acionista são o caminho. O livro Capitalismo consciente , de JohnMackey e Rajendra Sisodia, mostra como o impacto social gerado por uma empresa que põe os interesses de seus acionistas acima de tudo émuito diferente do impacto social gerado por aquela que prioriza outros públicos do seu ecossistema. O investidor quer um retorno quase imediato, e os cus- tos disso acabam recaindo sobre os demais públicos da empresa. Sempre foi assim,mas alguns acontecimentos nos sinalizam que o cerco está se fechando. No caso dos aplicativos de delivery, a única forma de satisfazer tamanha sede e velocidade de crescimento é oferecer um serviço muito barato e assim incentivar o usuário a fazer repetidos pedidos sem comprometer seu orçamento. Não por acaso, todo dia recebemos uma enxurrada de vouchers e descontos dos aplicativos, que lembrammais da gente do que nossos próprios pais. O que parece ser muito bompara o consumidor, do ponto de vista do entregador e do restaurante, não é tão legal assim. Educarmilhõesdeusuáriosaconsumiraumpreço finalmuito baixo pode, nomédio prazo, espremer toda a cadeia. Criar condições parauma cadeia saudável requer estabelecer metas mais realistas, menos umbiguistas, que levem em conta não só as demandas do acionista, mas tambémdos entregadores, restaurantes e usuários. Este cenário futuroengloba tambéma valorizaçãodos agentes da cadeia e a honestidade emreconhecer a dife- rença entre empreendedor e classe trabalhadora. A Gig Economy tem o trabalhador autônomo como agente primordial do seu funcionamento. Nela, a rela- ção entre patrão e empregado se torna muito mais líquida, fluida, sem vínculos e sem garantias. Se, por um lado, defende-se que essa é a única maneira de disponibilizar serviços de altíssima recorrência a um custo relativamente baixo, por outro, é preciso garantir que isso não seja feito à custa de garantias mínimas para uma classe que representa o elo fraco da corrente do ecossistema. Não é verdade, como dizem por aí, que na “Nova Economia” todo autônomo é empreendedor. Sejamos honestos: motoboy não é empreendedor, não vai ficar rico fazendo entrega de comida nempalestrar seu case de sucesso para uma audiência de empresários. Se fizer, ótimo, mas não é a regra. A regra é trabalhar horas a fio, sob sol e chuva, arriscando a própria vida no trânsito, por um salário baixo. O principal desafio das marcas hoje está em ler corretamente o cenário e responder a ele na prática, não no discurso! Em 2020, não é suficiente entender de tecnologia ou inovação para ter sucesso no mundo digital. É preciso entender de gente, comportamento, ativismo, injustiças sociais, redes e minorias shutterstock . com

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