Revista da ESPM JUL_AGO_SET 2020 web

JULHO/AGOSTO/SETEMBRODE 2020| REVISTADAESPM 65 Q uando o presente nos angustia, é natural descolarmos nossos pensamentos para o futuro, no qual existe a possibilidade de que tudo seja melhor. É uma forma de con- trolarmos a ansiedade. DuranteumapandemiacomoadaCovid-19, essemovi- mentoé coletivoe issoacelerapossíveis transformações. É relativamente simples fazer previsões de curto prazo, até porque o futuro é assíncrono. Ele acontece em momentos diferentes, em distintas geografias e ecossistemas de negócio. No curto prazo, nosso futuro pode ser o presente (ou até o passado) de alguém que já passou para uma próxima etapa evolutiva. Observar asmovimentações domundo no presente, considerando que conhecemos o norte das transforma- ções futuras, pode nos ajudar a encontrar as melhores soluções. Aprender coma experiência alheia tambémé uma boa forma para reduzir riscos de decisão. Mas qual é o norte das transformações futuras? Para ondecaminhávamosantesdesermos interrompidospela pandemia e para onde caminharemos a partir de agora? Existemmuitos caminhos para encontrar respostas plausíveis para estes questionamentos. Percorri alguns deles nas últimas décadas, e compar- tilho essa história comvocês. No fimda jornada, chego à resposta para a pergunta que formulei. Aosmais ansiosos, antecipo: segurança, significado e sustentabilidade. Aos mais curiosos, ofereço os detalhes da jornada. Reconhecimento de padrões Meu interessepela investigação sistemáticadepossíveis cenários futurosnasceucomos livros deWillianGibson. Umdeles, emparticular, o Reconhecimento de Padrões (Editora Aleph, 2004), tem como protagonista Cayce Pollard, uma caçadorade tendências ( coolhunter ) que tem hipersensibilidade a logomarcas. Oenredo é construído emtorno domistério de umvídeo distribuído anonima- mente, de forma fragmentadaedesordenadana internet, conquistando milhões de seguidores. Um personagem menor,mas que chamouminha atenção, éuma amigade Cayce que faz parte de umgrupo de pessoas contratadas por uma agência de propaganda para divulgar fragmen- tosde informaçãoduranteconversas informais embares badalados, como objetivo de induzir os consumidores a formar uma opinião favorável sobre umproduto. Gibson já havia surpreendido omundo comseu Neu- romancer (AceBooks; ReissueEdição, 1986), concebendo a ideia do ciberespaço, das conexões virtuais e dos wea- rables e implantes tecnológicos, 20 anos antes de isso começar a fazer parte de nosso cotidiano. Mas o futuro foi apresentado no livro Reconhecimento de Padrões com maior sutileza e humanidade. Não era uma história sobre o futuro da tecnologia, mas sobre para onde caminhava a humanidade pós-digital. A leitura mudou a maneira pela qual eu imaginava futuros, colocando o ser humano no centro de sua con- cepção, e me ajudou a antever para onde caminhava o mundo da mídia com outros 20 anos de antecedência. Futuros possíveis Comecei a escrever sobre o tema emminha colunamen- salparaa RevistaMarketing ,usandoaintuiçãocomoguiae ganhei oreconhecimentoda imprensadoUruguai, prova- velmenteinjusto,comooprimeirocoolhunterdaAmérica Latina, quandoparticipei deumeventopublicitáriopor lá. Descobri aFaithPopCorn, futuristadaBrainsReserve, que ficou conhecida como aNostradamus domarketing por seu livro The Popcorn Report (Faith Popcorn’s Brain- Reserve, 1991), brilhantee inspirador. Conheci emeapro- fundei no método L.E.SCAning, desenvolvido por um timedaUniversidadedeGrenoble (França), umprocesso colaborativo para coletar e interpretar sinais fracos, ela- borar e validar hipóteses para antecipar cenários possí- veis como subsídio para definições estratégicas. Imple- mentar esse método em duas organizações nas quais trabalhei me fez ver os benefícios de utilizar processos mais estruturados, alémda intuição e do brainstorming , para construção de cenários. Alguns anos depois, conheci eme encantei peloCope- nhagen Institute for Futures Studies (CIFS) e suasMega- trends, acompanhando com atenção suas publicações sempre úteis para ajudar a pautar as decisões que preci- sava tomar como CEO e, mais tarde, para embasar tra- balhos de consultoria. QuandooCIFSdecidiuoperarnoBrasil,ofereci-mepara apoiarsuaimplementaçãocomo associatedpartner eacabei por assumir opostodeHeadBRno iníciode 2018. Formá- vamosoúnicogrupodeproduçãocolaborativadeconheci- mentosobrecenários futurosdoCIFS foradaDinamarca. Nesses quase 20 anos de dedicação aos estudos futu- ros, tive a oportunidade de explorar diversas abordagens

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