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FUTURO REVISTA DA ESPM | JULHO/AGOSTO/SETEMBRODE 2020 66 comdiferentes inspirações, como tecnologia, semiótica, sociologia, psicologia, economia, antropologia, neuroci- ência e outras áreas de conhecimento, e variados graus de complexidade. O passar dos anos permitiu-me observar, também, a acuracidade das previsões. Embora cenários futuros sejamfluidos e o simples exercício de imaginá-los possa alterá-los, comparar as previsões do passado com os fatos do presente é umbomcaminho para avaliar a efi- cácia dos processos de antevisão. Uma característica comumaosmétodos preditivos é sua natureza heurística, à qual o princípio da Navalha de Ockham se aplica com singular propriedade. Abuscaporumpilarcomumdesustentaçãodasmetodo- logiasmaiseficientesapontouoserhumanocomoacons- tantedereferênciamaisapropriadaaodesenhodecenários. Pode parecer óbvio,mas a grandemaioria dos estudos futurosnasúltimasdécadas fundamentousuasargumen- tações em vetores contextuais, como a evolução tecno- lógica, a economia e a política, como determinantes do comportamentohumano. Otempodemonstrouque essa interaçãose retroalimenta, ouseja, os aspectoshumanos influenciame interagemcomos vetores, determinando os rumos da tecnologia, da economia e da política. Por que mudamos? Ao longo dos séculos, as coletividades humanas vêm se transformando, mas os seres humanos nem tanto. Oportunidades paramudanças não nos faltam, a todo momento, oferecidaspor descobertas científicas e tecno- lógicas, eventosdegrandemagnitude, ideiasdisruptivas, experiênciasindividuaisecoletivas,condiçõesgeopolíticas, fenômenosnaturaisouqualquer fatonovoe significativo. Para antecipar quemudanças acontecerão, podemos aplicar filtros de possibilidades. Oprimeiro, emaisóbvio, éodasmotivações. Sómuda- mossehouverrazõesparamudar,seestamosinsatisfeitos coma condiçãoouporquenos desagrada ouporque dese- jamosmais, e a oportunidade demudança se apresenta. Osegundo é ofiltrodo contexto. Algumas dasmudan- ças possíveis enfrentarãomaiores resistências e outras poderão ser impulsionadas pelo espírito do tempo (Zeitgeist), que sintetiza as disposições, pensamen- tos e atitudes individuais e coletivos de ummomento. Oterceirofiltroéoda relaçãoentreoesforçoea recom- pensa.Mudar é trabalhoso, e asmudanças só acontecem se o resultado valer a pena e os líderes souberem con- duzir ou inspirar esse investimento na transformação. Força (motivação, impulso), contexto (Zeitgeist) e resultado (investimento, benefício, liderança) explicam, de umamaneira simples e objetiva, por quemudamos o quemudamos. Uma visão arquetípica Os três fatores explicativos que sugerimos (força, con- texto e resultado) parecemsimples, óbvios e intuitivos. A razão para isso é que obedecemà sequência arque- típica dos processos humanos de transformação. E o ser humano, nossa constante de observação, muda pouco. Arquétipo é a expressão mais usual para se referir a modelos representativos de formas de pensamento uni- versalizadas (válidas para todos os seres humanos). O conceito nasceu comos filósofos da Grécia Antiga (Pla- tão e contemporâneos), mas ganhou notoriedade como psiquiatra Carl Gustav Jung, que definiu um conjunto de arquétipos que ajudavam a explicar a influência do inconsciente coletivo na formação da personalidade. Mas outro conjuntode arquétipos, concebidos séculos antesdosmodelosjunguianos,éparticularmenteútilpara compreendermososprocessosdetransformaçãohumana. No início do século 15, surgiram os arcanos maiores do Tarô, que representam, justamente, essa jornada de transformação.Deautoriadesconhecida, asfiguras foram adicionadas aos baralhos de jogar da época, e chamadas de carta de Trunfo. A ordenação dos 22 arcanos pode variar um pouco, embaralhos diferentes, mas cada umdeles representa um aspecto arquetípico da jornada de transformação, da qual dificilmente podemos escapar. Enquanto os arquétipos junguianos foram concebi- dos para ajudar a interpretar o comportamento do indi- víduo, os arquétipos do Tarô foram idealizados para representar os aspectos de nossa relação comomundo, interior e exterior. Essa visão é de grande utilidade para o desafio de con- ceber cenários futuros, que resultamdas possibilidades oriundas da intersecção dasmotivações dos indivíduos com a evolução do contexto em que está inserido. Exploramos esse caminho a partir da experiência corporativa na concepção estratégica e condução da implementação de processos de inovação e do conheci- mentodasdiversasmetodologiaspublicadasnasúltimas

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