Revista da ESPM
JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇODE 2020| REVISTADAESPM 113 Ironicamente, sim. E aqui reside uma diferença muito tênue — diploma universitário, habilidades com línguas, intercâmbionoexterior, acesso facilitadoà cultura, entre outros, infelizmente não constituem garantias de elegi- bilidade para a categoria de subversivo. Pode-se ter tudo isso, mas viver como sub-ser-vivo, repetindo padrões e informações que em nada enriquecem a vida daquele que a detém, tampouco a realidade a sua volta. Uma vida na superfície que se pode classificar como “digna” pelos símbolos que projeta aos nossos olhos, mas que nas pro- fundezas é vazia de sentido transformador. Uma vida meramente utilitária. Não é à toa que se observa um número crescente de pessoas que possuemmuitos desses atributos na sua for- mação educacional, mas se encontram em condição de subemprego. Motoristas de Uber comdiploma universi- tário, jovens com um currículo recheado de marcas das instituições mais renomadas nacional e internacional- mente quenão conseguemengrenar uma carreirade rea- lizações. Detentores de pós-graduação que estão aquém da realização do potencial de sua formação. Tenho 20 anos de experiência profissional e estou longe de tomar a minha experiência particular como amostra significativa e representativa da realidade. Mas posso tecer alguns questionamentos que carrego ao longo daminha carreira, principalmente no tocante ao contato que tenho no recrutamento de talentos para as empresas, nos diferentes países onde já trabalhei. Cada vez mais tenho me deparado com profissionais mais sub-ser-vivos do que subversivos. E esse não é um problema localizado, mas globalizado. No Brasil, na Tailândia, emCingapura, Londres ou Paris conheci diversas pessoas que estavambuscando somente uma relação utilitária como trabalho, muitas vezes por não vislumbrarem outra alternativa. Ou, se visualizam outra opção, não possuem os meios e as referências pelas quais conseguiriam criar um espaço de subver- são. As pessoas são sub-ser-vivas porque vivem em ambientes como tal, ou os ambientes são desta forma, porque as pessoas são sub-ser-vivas? Como todo pro- blema complexo, o entendimento vem de aceitar uma causalidade circular. Combase emminha experiência prática, posso asse- gurar que o desenvolvimento temo poder de alimentar o nosso lado mais humano e, portanto, subversivo. O cultivo dessa prática deverá nos deixar mais imunes à obsolescência a que estaremos sujeitos com a ace- leração do desenvolvimento das novas tecnologias. Afinal, são os traços humanos que as máquinas não serão capazes de reproduzir ou mesmo subverter em um futuro próximo. Jáasexperiênciascomradiaçõesdemicro-ondascriaramum eletrodomésticoessencial emmuitascasasequealavancou osegmentodecomidasprontasecongeladasnomundo Entre as invenções que surgirampor acidente está a cola que não fixava o suficiente e acabou dando origema uma marca global: o Post-it A humanidade, com o que há de mais humano e subversivo, sempre logrou criativamente superar as ameaças de ostracismo ou extinção shutterstock . com shutterstock . com
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