Revista da ESPM

CARREIRA REVISTA DA ESPM | JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇODE 2020 114 A seguir, enumero algumas das características pre- sentes no DNA de todo profissional subversivo: • 1. Profundidade e ecletismo– Todo subversivo subverte porque tema capacidade de transitar entre a profundi- dade de um certo tema e a sua ligação transversal com outras disciplinas. Esse tipo de profissional entende as raízes profundas de um problema e compreende que a sua solução muitas vezes reside no entendimento de disciplinas complementares e muitas vezes não cor- relatas. Steve Jobs subverteu a ordem da computação não só por possuir o domínio em certas áreas da com- putação, mas também por ter interesses não neces- sariamente relacionados a este assunto. A interface amigável, minimalista e simples do seu sistema ope- racional, que o diferenciou da concorrência, foi ins- pirada em seu interesse por caligrafia e outras artes. • 2. Empatia – Todo subversivo subverte, pois tem um interesse genuíno em tudo e todos a sua volta. Possui a capacidadedesedeslocardeseu lugarpróprioeviver, sen- tir e pensar a partir de outro lugar que lhe é estranho. Por ter a capacidade demudar de perspectiva, o subversivo é capaz de enxergar soluções que não seriampossíveis se pensadas do ponto de vista da sua visão particular. Todo subversivo temumpouco de diplomata e capacidade de negociar. É o líder sul-africano NelsonMandela se colo- candono lugar dosAfrikaners, o grande ativista indiano MahatmaGandhi analisandoasituaçãodopontodevista dos britânicos, ou ainda SergioVieira deMello emtodos os conflitos que, como negociador, se envolveu como enviado especial da ONU. • 3. Agilidade – Todo subversivo não temmedo do ima- nente, do contingente, do imprevisível, do emergente e do acidental. É flexível, capaz de lidar com proble- mas inesperados e mudar o caminho determinado. É por aceitar a natureza em transformação da realidade que ele é capaz de enxergar novos caminhos. Quantas invenções não surgiram por acidentes? Uma delas foi a penicilina e seu efeito letal sobre o bacilo de Koch, causador da tuberculose. Já a cola que não colava o suficiente virou o Post-it, enquanto as radiações de micro-ondas deram origem a um eletrodoméstico essencial em muitas casas. • 4. Colaboração – Todo subversivo sabe que não se sub- verte sozinho. É somente na colaboração que se pode exponencialmente utilizar a capacidade e o repertório de indivíduos comconhecimentos, experiências, pers- pectivas e histórias diversas. Logo, esse tipo de profis- sional é capaz de lidar com a diversidade de opiniões e culturas eainda subtrair oseuegoparaqueogrupopossa somar mesmo na adversidade e no conflito. A física do último século, por exemplo, avançou com as descober- tas feitas por meio de esforços coletivos de uma comu- nidade inteira de cientistas. Estestraçosestãolongedeseremexaustivos.Tampouco estão distantes de representar comprecisão as qualida- des do que estou chamando de sujeito subversivo. Mas são hipóteses que possuemo intuito de uma provocação dentro do debate recorrente sobre o futuro do trabalho vis-à-vis a revolução tecnológica que vivemos. Dentro dos milhares de anos que a humanidade está presente neste planeta, muitos foram os momentos de ruptura emque questionamentos similares devem ter passado pela cabeça dos nossos antepassados. Apesar de tudo, a humanidade, como que há demais humano e subver- sivo, logrou criativamente superar as ameaças de ostra- cismoou extinção. Foi exatamente apráxis destes traços que possibilitaram revoluções que nenhuma máquina é capaz de autonomamente liderar. Todavia, diferente- mente do passado, hoje e em um futuro próximo mais seres humanos corremo riscode se tornaremredundan- tes e, portanto, inutilizados se não escolheremo cami- nho de uma das duas opções oferecidas pelo professor Chamie. Mais gravemente, há outra crise emcurso que representa uma ameaça aindamaior à nossa existência — a crise climática. Emambas as crises ou revoluções, a provocação ainda é válida. E, dependendo da opção que escolhermos, o resultado será a nossa extinção ou evo- lução para umnovo estágio da nossa existência. Afinal, ser subversivoou sub-ser-vivo?Ser sub-ser-vivoeperecer ou subverter para sobreviver? Para a centelha demasia- damente humana que reside em cada um de nós, essa provocação do professor Chamie nunca foi tão urgente, subversiva e necessária! Guilherme Rodrigues Ferreira Diretor global de inovação da Danone

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