Revista da ESPM

PANORAMA REVISTA DA ESPM | JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇODE 2020 18 Morgan sugere uma diferença marcante entre o conceito de engajamento e experiência. Segundo ele, quando as empresas implantamprogramas de engaja- mento, normalmente se trata de ações de curto prazo, ornamentais e semprofundidade. Emoutras palavras, são ações que não transformam, de fato, a forma como a empresa atua. Ele compara esse tipo de ação à pin- tura de um carro com defeitos no motor: o veículo até fica mais bonito, mas continua oferecendo uma expe- riência ruim ao motorista. O foco deliberado na experiência do colaborador, por outro lado, é forçosamente voltado para o longo prazo: “Se o engajamento dos funcionários for a injeção de adre- nalina de curto prazo, a experiência dos funcionários é o redesenho de longo prazo da organização. O foco está no motor, em vez de na pintura e no estofamento”. Morgan vai além ao propor o termo Experiential Organization (ExpO), ou Organização Experiencial, definida da seguinte forma: “Uma organização expe- riencial (ExpO) é aquela que foi (re)projetada para real- mente conhecer seus colaboradores e que dominou a arte e a ciência de como se cria um lugar onde as pessoas que- rem, não precisam, aparecer para trabalhar. A organiza- ção experiencial faz isso criando um propósito para sua existência e concentrando-se nos aspectos físicos e nos ambientes tecnológico e cultural” . Ofatodeoferecer fatoresespecíficosparaguiarogrupo executivo no esforço de criar uma ExpOé umponto alto na definição proposta por Morgan. Alémdisso, interes- santemente, o autor inicia seu raciocínio pelo propósito da organização. Esse fato é relevante por ser justamente umdos pontosmais destacados pelos respondentes da pesquisa Carreira dos Sonhos de 2019 , realizada pelo Grupo Cia de Talentos. Assim a Cia de Talentos define a Empresa dos Sonhos dos 97 mil brasileiros que res- ponderamà pesquisa no ano de 2019: “As pessoas querem empregos que se ajustemao seu estilo de vida, que ofereçam oportunidades de crescimento e as conectem verdadeira- mente a um significado e propósito maior” . Essa frase deixa claro que os brasileiros estão emsin- tonia comos anseios que vêmdespontando nomundo: umpropósitomaior, umestilo de vida e oportunidades. Aquestãoé: a suaempresaestáprontaparaoferecer isso? Como se manter relevante Para encerrar este artigo, seguem algumas reflexões sobre o indivíduo. Especificamente, procuramos res- ponder à seguinte pergunta: o que cada umde nós deve fazer para semanter relevante? Afinal, se, por um lado, é fato que as pessoas são fundamentais para a revolu- ção digital, por outro, também é fato que devemos nos conscientizar da necessidade de mudança. Logo no início de seu livro 21 lições para o século 21 , Yuval Noah Harari nos alerta que isso pode gerar sentimentos de desconforto: “Em 2018, a pessoa comum se sente cada vez mais irrelevante. Muitas palavras misteriosas são citadas com entusiasmo nas palestras do TED, nos think tanks do governo e nas conferências de alta tecnologia — globaliza- ção, blockchain , engenharia genética, inteligência artifi- cial, aprendizado de máquina —, e pessoas comuns podem muito bem suspeitar que nenhuma dessas palavras é sobre elas. A história liberal era a história das pessoas comuns. Como ele pode permanecer relevante para um mundo de cyborgs e algoritmos em rede?”. O que a afirmação de Harari reflete é o fato de que, no futuro,seránecessáriomudardecarreiraotempotodoou, aomenos, uma vez a cada dez anos. Isso talvez cause um estressemuitograndenaspessoas. Elenãoacreditaquea maioria de nós tenha a resiliência necessária para tanto. Esse ponto levantadopelo autor permite uma reflexão interessante: haverá alguma dimensão do ser humano à qual asmáquinasnãoconsigamreplicar?Harari destaca, emespecial, dois tiposdecapacidadedos sereshumanos: físicas e cognitivas—eque, emambas, a inteligência arti- ficial supera os seres humanos. Ele alerta tambémpara o fato de que, considerando a escala de automação que as tecnologias atuais possibilitam, é pouco realista pensar que a criação de empregos irá superar a eliminação de postos de trabalho. Em resumo, a humanidade está em uma situação bastante delicada, para dizer o mínimo. Embora esse ponto de vista seja aceito por pensado- res importantes, tanto das ciências sociais quanto da área da tecnologia (como Stuart Russell, citado no início deste artigo), nem todos pensamdessa forma. O relató- rio The changing nature of work , produzido em2019 pelo Semo envolvimentodos colaboradores, amaioriados projetos de inteligência artificial/transformaçãodigital não oferece retornofinanceiro

RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTY1