Revista da ESPM

JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇODE 2020| REVISTADAESPM 45 “Épreciso pensar numcurrículoflexível, que respeite os propósitos dos estudantes. Umcurrículoaberto, adap- tável, respeitoso com a diversidade”, observa Mano- lita Correia Lima, coordenadora do Núcleo de Inova- ção Pedagógica da ESPM. Manolita destaca que o papel do professor é fundamental neste processo e precisa, também, ser repensado. “O conhecimentomais amplo, menos especializado, énecessáriopara vermos omundo com a amplitude necessária. Um professor com reper- tório reduzido e curiosidade limitada talvez não tenha o espírito da docência”, destaca. O problema é que o Brasil não começou a formar em larga escala os alunos descritos acima, muito menos tem espalhado por sua rede de ensino os professores preparados para formá-los sobre as novas bases. Por outro lado, o país forma em larga escala o oposto disso. Segundodados doBancoMundial, 25milhões de jovens, ou 52%da população entre 19 e 25 anos, estãomais sujei- tos à pobreza por falta de qualificação e baixo nível de escolaridade. Sendo assim, nemde longe esses brasilei- ros podem competir pelas vagas de trabalho com boa remuneração e que exigem uma melhor educação. É o que aconteceu como Luiz, o engenheiro emotorista de aplicativo citado alguns parágrafos atrás. De volta ao ponto Éaqui que voltamos aopontodepartida: o surgimentode uma sociedade comuma grande quantidade de inúteis e a necessidade de a parcela produtiva pagar essa conta. Omodelo econômico predominante nomundo exige que haja consumo em grande quantidade para gerar a riqueza necessária para manter a roda girando. Se gerarmos uma população sem acesso ao trabalho, devido à incapacidade de se adaptar às novas deman- das, as empresas perderão consumidores e, o mais grave, a desigualdade entre nações ricas e pobres irá se aprofundar. Gente muito graúda tem pensado sobre isso e defendido que programas de garantia de renda podem vir a ser necessários. É o caso do bilio- nário Mark Zuckerberg. O criador do Facebook cha- mou atenção para o problema em um discurso para formandos da Universidade de Harvard, em 2017. Elon Musk, fundador da Tesla e da SpaceX, também se mostrou preocupado com o problema, em parte por entender que haverá um excedente de bens prontos para consumo e milhares de pessoas sem acesso por falta de emprego. É fácil entender por que o problema os afeta. Eles são crias do Vale do Silício, região dos Estados Unidos berço de algumas das empresas mais inovadoras, disruptivas e valiosas da atualidade. São essas empresas as responsáveis por induzir boa parte da transformação que se ergue baseada em inteligên- cia artificial e máquinas que aprendem. Portanto, não surpreende que sejam os primeiros a pôr o tema em debate. Outros empreendedores do Vale do Silício também já deram passos mais efetivos nessa direção e lançaram pesquisas para avaliar o comportamento das pessoas e de suas famílias ao receberem uma renda mínima por um período prolongado. Um estudo encampado pela Y Combinator, uma das principais aceleradoras de star- tups domundo, com investimentos na Airbnb, Dropbox e, aqui no Brasil, naQuero Educação, quer avaliar como a garantia de uma renda mínima impactará aspectos como saúde física e psicológica, comportamento, cri- minalidade, decisões políticas e o efeito sobre as crian- ças. Esperam-se alguns comportamentos típicos, que vão desde a acomodação gerada por uma renda sem esforço até o entendimento de que a segurança de ter as necessidades básicas como alimentação e moradia atendidas possa liberar os beneficiários para iniciar ações empreendedoras. Seosresultadosindicaremque,alémdosganhossociais, haverá impacto positivo para os negócios emexpansão nomundo, lidaremos comum fato inédito: empresários defendendo a destinação de recursos para projetos de transferência de renda. Resta saber qual será o acordo social para definir quem realmente irá pagar a conta. Rui Gonçalves Jornalista especializado em sustentabilidade e responsabilidade social corporativa, que atua como gerente de comunicação da Edtech Quero Educação NoBrasil, umamultidãoestácomo futurocomprometido: 50%dosalunos têmonívelmaisbaixodoPisaemleitura, 55%emciências e68%emmatemática

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